Usados pelas empresas, TED e DOC ainda representam 46% e 22% dos valores transferidos
Em pouco mais de um ano e meio o Brasil se colocou no quarto lugar mundial em uso de pagamento instantâneo. Foram mais de R$ 10 trilhões em transferências financeiras feitas pelo Pix e mais de 480 milhões de chaves cadastradas. O volume mensal transacionado também aumentou e saiu de R$ 156,6 bilhões, em janeiro de 2021, para R$ 933,5 bilhões em julho de 2022, segundo dados do Banco Central (BC). Esses números mostram a rápida consolidação de um serviço que podia ou não cair na graça do consumidor. E caiu. Para os especialistas, isso ocorreu porque há muito dinheiro ainda em circulação.
Pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) mostrava que, antes do lançamento do Pix, em novembro de 2020, 40% das transações eram feitas em dinheiro. “Era muito alto o percentual. Em Portugal, por exemplo, elas são 18%. Quando chega o Pix, com pagamento instantâneo, ele encontra terreno fértil. O autônomo, o motorista de táxi, não tinha inclusão financeira e foi incluído”, observa Leandro Vilain, diretor executivo de inovação, produtos e serviços bancários da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
O executivo diz que a quantidade de transações de DOC e TED caiu, em média, 24 milhões só no mês de julho em comparação a julho de 2021. “E no boleto caíram 15 milhões de transações. Do outro lado, houve 2 bilhões de transações em Pix que devem ter canibalizado as transações em dinheiro. Exemplo: o vendedor de coco no [parque do] Ibirapuera, em São Paulo, antes vendia em dinheiro e agora aceita Pix”, afirma Vilain.
Pesquisa do BC, no entanto, mostra que embora as transferências por TED e DOC tenham diminuído em quantidade, ainda representam o maior volume financeiro, com 46% e 22%, respectivamente, pois os valores costumam ser maiores e feitos por empresas que ainda não migraram para o Pix. Mas os bancos acreditam que é questão de tempo para as companhias também fazerem essa migração e adaptarem seus sistemas.
No Itaú, nos últimos 12 meses até 18 de agosto, 56% das transações migraram de DOC e TED para Pix, totalizando hoje 20% das transferências efetuadas. O banco registrou aumento de 32% no cadastro de chaves Pix no mesmo período. “Vejo o Pix como um sucesso. Com níveis de aceitação altíssimos e com diversas funcionalidades. É um produto novo e em desenvolvimento. TED e DOC estão sendo afetados, mas também o dinheiro e o cheque”, conta Marcos Cavagnoli, diretor de digital cash management e open finance do Itaú Unibanco. Para ele, é natural que isso ocorra pois o Pix agrega valor e rapidez às operações e serve como instrumento de inserção social ao sistema financeiro. O banco também nota o crescimento da adoção do Pix pelas empresas, mas em ritmo menor. “Isso porque a pessoa jurídica tem estrutura mais complexa e está migrando aos poucos”, diz Cavagnoli.
O Banco do Brasil (BB) informa que, de janeiro a julho, 30,9% de todas as transações de Pix do mercado passaram pelo banco, o que representa nada menos que R$ 1,3 trilhão. O BB atribui esse valor à maior inserção de pessoas ao sistema digital e instantâneo de pagamentos, mas lembra que as transações de TED e DOC existem há 20 anos e são consolidadas entre as empresas. “A TED não é 24 horas e não funciona nos finais de semana, mas funciona nos horários comerciais. Ou seja, atende as necessidades das empresas”, observa Rodrigo Felippe Afonso, diretor de meios de pagamento do Banco do Brasil. Não há limite de valor para as operações com Pix no horário comercial.
Já o Bradesco atribui a rápida adesão ao Pix ao fato de os bancos terem trabalhado em conjunto com o BC na promoção do serviço. O banco diz que em novembro de 2020 já tinha 7 milhões de chaves cadastradas. “Hoje temos mais de 50 milhões de chaves de usuários ativos. Dos meus clientes digitais que usam mobile (celular) e internet banking, mais de 90% têm chaves cadastradas e usam Pix. É uma penetração absurda”, diz José Henrique Simões Camargo, superintendente executivo de comercialização de produtos e serviços.
Agora, o mercado se prepara para a evolução do Pix com novas funcionalidades. O Pix Saque e o Pix Troco, que tiveram as primeiras transações realizadas em dezembro de 2021, saltaram de R$ 468 milhões para R$ 37, 4 bilhões em operações em julho deste ano. Já o Pix Parcelado e o Pix Garantido ainda aguardam regulamentação por parte do BC, mas alguns bancos já desenvolvem seus projetos piloto.
“O BB está trabalhando as novas funcionalidades além do que o BC normatizou. O Pix parcelado deve entrar em operação já no mês de setembro e será mais uma alternativa de financiamento ao cliente. Para o Pix garantido ainda não há normatização e não tem como dar opinião”, afirma Felippe Afonso, do BB.
Fonte: Valor Econômico