Estou em situação de endividamento e fico preocupado, pois não é a primeira vez que acontece. O que devo fazer para reverter o quadro?
Jaques Cohen, CFP, responde: Caro leitor, agradeço sua questão, ela diz respeito à realidade e à saúde de muitos brasileiros. O endividamento pode envolver uma carga emocional enorme e afetar a capacidade psíquica das pessoas.
Reverter dívidas é um trabalho de médio prazo e, por estranho que pareça, sugiro começar refletindo sobre o futuro e suas aspirações pessoais. Elas podem ser a motivação para encarar o problema com protagonismo. O passado também é importante, pois é possível que a situação se repita se você não compreender a sua origem, que pode ser emocional.
O seu planejamento vai depender das suas particularidades e do seu grau de endividamento, então listarei orientações sem a pretensão de fornecer verdades absolutas.
Sugiro começar por uma fotografia que considere um balanço com patrimônio e dívidas e um fluxo do que entra e sai da sua conta. Isso pode ser feito com ajuda de aplicativos e planilhas ou até em um papel. Use o que te deixar mais confortável. Se for casado, considere traçar o plano a dois.
Começo pelas dívidas. A sugestão é mapear o valor total delas, mesmo que estejam em dia. Não confunda esse total com valor das parcelas, que caem mês a mês. Por valor da dívida, buscamos saber o quanto precisaria pagar hoje para quitar tudo com todos os credores. Mesmo que não tenha o dinheiro em mãos, esse levantamento vai te ajudar a saber a dimensão do desafio.
Você talvez também tenha acumulado patrimônio: aplicações financeiras, bens e participação em empresas. Se for o caso, pode considerar vendê-los.
Mas olhe para a alternativa com cautela, ela pode ser apenas solução temporária para uma questão maior. Com ou sem patrimônio, sua estratégia vai passar por entender o que entra e o que sai da sua conta.
As entradas devem ser entendidas depois de impostos. Parece simples, mas na correria do dia a dia, muita gente não sabe responder com exatidão nem quanto ganha. Se você for autônomo, essa conta pode exigir um pouco mais.
Na outra ponta, ao lidar com as despesas, muitas pessoas se sentem desacreditadas ou perdidas. Busque manter a calma e basear-se em despesas passadas para evitar o autoengano. Além de pensar no que sai a cada mês, você precisa olhar para o que não se comporta de forma regular, como IPVA, viagens ou roupas.
Antes de partir para uma revisão do seu fluxo, dê atenção a compromissos como plano de saúde e financiamento imobiliário: o não pagamento deles pode ter consequências mais graves.
A essa altura, você já tem informações suficientes para avaliar e repensar suas escolhas. Ao fazer isso, leve em conta que, ao fim, você terá de negociar parcelas que caibam no orçamento junto às entradas e saídas. Se o aperto for grande, cogite alternativas de renda extra.
Importante: evite o crédito do tipo rotativo, como cheque especial. O ideal é contar com a regularidade e juros menores dos parcelados, comparando taxas entre linhas de crédito para escolher as mais baratas e quitar antes as mais caras.
Também recomendo deixar um dinheiro de lado para imprevistos, mesmo que isso signifique pagar as dívidas mais lentamente. Se não tiver espaço para amortecê-los, o plano fica frágil e qualquer acontecimento fora do roteiro vai resultar em novas dívidas.
Paciência e compreensão serão fundamentais. A finalidade do seu planejamento não deve ser punir-se, e sim reverter o quadro. Avalie contar com um planejador financeiro. A escuta e o olhar do outro podem ser importantes, e um trabalho sério pode se revelar um investimento com retorno palpável.
Fonte: Valor Econômico