Com sinais cada vez mais claros de que o impacto da crise econômica ficou para trás, o Itaú Unibanco deu a investidores uma série de motivos para dobrar a aposta em uma recuperação em 2017. O maior banco privado do país registrou lucro líquido de R$ 5,595 bilhões no terceiro trimestre. Apesar da queda de 8,9% em relação ao mesmo período do ano passado, o resultado veio melhor do que a média das projeções de analistas consultados pelo Valor, que apontava para um ganho recorrente de R$ 5,096 bilhões.
Os números do Itaú dispararam uma nova onda de compras de ações das instituições financeiras na BM&FBovespa. Os papéis do Itaú fecharam o pregão em alta de 3,48% e, no ano, acumulam valorização de 66,7%. Os papéis dos outros bancos também subiram forte ontem: Banco do Brasil ON ganhou 3,52%; Bradesco PN teve alta de 3,15%; e Santander Unit, 2,9%.
Uma série de dados positivos sobre a qualidade dos ativos, um dos pontos que mais preocupavam os analistas que acompanham o setor financeiro, foi a grande deixa para o otimismo com os bancos. O resultado do Itaú reforçou alguns dos sinais positivos que o balanço do Santander havia trazido na semana passada. A expectativa agora é que BB e Bradesco, que anunciam os resultados no dia 10, confirmem a tendência de melhora.
No caso do Itaú, as despesas de provisão contra calotes apresentaram queda pelo segundo trimestre consecutivo. Depois de atingir o pico nos primeiros três meses do ano, quando encostaram em R$ 7 bilhões, os gastos com provisão somaram R$ 5,23 bilhões entre julho e setembro, com aumento de 7,2% em 12 meses, mas em queda de 2,5% ante o trimestre ante o trimestre anterior.
A inadimplência também começa a dar indícios de que está perto do ponto de inflexão. O índice de atrasos acima de 90 dias subiu 0,3 ponto percentual entre junho e setembro, para 3,9%. O aumento, porém, ainda é fruto do calote da Sete Brasil, fornecedora de sondas da Petrobras que entrou em recuperação judicial. Excluindo esse efeito, que não teve impacto no resultado do banco, pois o crédito estava 100% provisionado, a inadimplência ficaria estável.
Outra boa notícia veio na inadimplência nas linhas para pessoas físicas, que registraram queda mesmo em um cenário em que a taxa de desemprego continua a subir. O indicador de atrasos acima de 90 dias foi de 5,7% em setembro, ante 5,9% em junho. Há um ano, o índice era de 5,4%.
A melhora dos indicadores antecedentes de inadimplência também favoreceu o quadro de maior otimismo. A taxa de atrasos entre 15 a 90 dias, caiu de 3,6% em junho para 3,2% setembro – mesmo patamar de setembro de 2015 – considerando apenas os empréstimos do banco no Brasil. Na semana passada, o Santander também mostrou redução na inadimplência antecedente, de 5,5% em junho para 5% em setembro.
Já o fraco desempenho da economia e o baixo apetite por risco mantiveram a carteira de crédito do Itaú em queda. O saldo dos financiamentos, incluindo avais e fianças e títulos privados, atingiu R$ 605,1 bilhões, redução de 0,6% na comparação trimestral e de 11% em 12 meses. A projeção do banco é de uma retração de até 10,5% no crédito neste ano.
Apesar da queda geral, algumas linhas começaram a demonstrar recuperação, segundo Marcelo Kopel, diretor de relações com investidores do Itaú. Ele mencionou especificamente as operações com cartão de crédito, que apresentaram alta de 2,4% em relação ao trimestre anterior. “O ritmo de evolução da carteira pode evoluir conforme os agentes da economia retomarem a demanda”, afirmou, em teleconferência com a imprensa.
Apesar do recuo nos empréstimos, o banco apresentou uma alta de 6,7% na margem financeira em relação ao trimestre anterior, que havia sido afetada por uma baixa (“impairment”) em títulos de crédito – que os analistas acreditam se referir à operadora de telefonia Oi.
Mesmo sem esse efeito, a margem teria crescido mais de 2%, segundo Kopel. Isso significa que a alta nas taxas cobradas dos clientes compensou o menor volume de empréstimos no período. Questionado sobre quando o banco começará a repassar a queda da taxa básica de juros, Kopel disse que, além da Selic, a evolução sobre a percepção de risco do tomador deve determinar o custo dos financiamentos.
“Os resultados sugerem que o ciclo de inadimplência virou, pavimentando o caminho para a melhora das provisões e para um potencial de alta considerável do lucro ao longo do próximo ano”, escreveram os analistas do UBS, em relatório a clientes.
Para Eduardo Rosman e Thiago Kapulskis, analistas do BTG Pactual, a expectativa é que 2017 seja um período de transição, com uma recuperação mais forte acontecendo só de 2018 em diante. “Mas os resultados do terceiro trimestre e os comentários recentes da direção do banco nos deixam mais confiantes no risco de surpresa positiva para nossas estimativas.”
Os analistas do Goldman Sachs classificaram o lucro do Itaú no trimestre como “impressionante”. “Embora os resultados devam se manter sob alguma pressão nos próximos dois ou três trimestres, o foco agora é no caminho em direção ao crescimento e nos planos do banco para o seu excesso de reservas e capital”, escrevem em relatório.
O Itaú encerrou o terceiro trimestre com índice de capital principal de 15,7%. Esse número seria de 13,6% considerando a implementação completa das regras de Basileia 3 e a aprovação da compra da participação do BMG no negócio de crédito consignado e das operações de varejo do Citibank no país.
Esse patamar está um pouco acima do que a instituição financeira vislumbra ter, segundo Kopel. Questionado sobre qual seria o índice de capital ideal, o executivo afirmou que o banco trabalha com um índice entre 12% e 13%, quando a economia mostrar um grau maior de visibilidade. O patamar mínimo requerido pelo Banco Central a partir de 2019 é de até 10,5%.
Fonte: Valor Econômico