Menos de um ano depois de vender a Recovery para o Itaú Unibanco no auge dos problemas de liquidez causados pela prisão de seu ex-controlador, André Esteves, o BTG Pactual está de volta ao negócio de recuperação de crédito.
Batizada de Enforce, a nova companhia vai absorver a gestão de R$ 30 bilhões de créditos em recuperação que o BTG já tem em carteira, além de 140 imóveis chamados de “estressados”, ou seja, com problemas judiciais e com contas inadimplentes. O retorno do BTG ao segmento se deu por meio da aquisição de 70% da Ibagué, uma companhia que tem na sociedade um antigo sócio do BTG, Emmanuel Rose Hermann.
Por enquanto, a atuação do BTG Pactual se dará apenas na área de crédito de empresas e de portfólios do próprio banco, devido a um acordo de não competição assinado com o Itaú. Segundo o Valor apurou, o contrato vence em dezembro de 2017, quando o banco estará livre para retornar ao varejo e à gestão de carteiras de terceiros.
O BTG retorna a um dos negócios que mais lamentou ter de se desfazer quando enfrentava uma fuga de recursos. Era, porém, um ativo de fácil alienação, que atraiu o interesse de vários compradores por causa da alta taxa de retorno. Agora, o BTG considera já estar pronto para retomar a atividade em um mercado estimado em R$ 430 bilhões.
“Vendemos a Recovery por uma questão pontual. Superadas as questões do passado, agora já podemos escolher onde investir”, afirma Alexandre Câmara, sócio do BTG. “Estamos de volta ao jogo.” O BTG encerrou o terceiro trimestre com um índice de Basileia de 16,4%.
Na nova empreitada, o BTG terá como sócia a Leste Ilíquidos Participações, controlada por Hermann, Otair Guimarães e Ricardo Lopes Cardoso, que detêm um terço do total das ações cada um. Hermann foi chefe da mesa proprietária de ações do BTG Pactual e deixou o banco em março de 2014. Os novos sócios trarão para a Enforce experiência na gestão de ativos ilíquidos e um portfólio de imóveis cujo tamanho não foi divulgado.
Segundo Câmara, o banco pretende comprar entre R$ 5 bilhões e R$ 20 bilhões de valor de face carteiras de crédito inadimplentes num período de um a três anos. Para isso, a instituição terá de investir cerca de R$ 1 bilhão.
Quando foi vendida para o Itaú por cerca de R$ 1,2 bilhão em março deste ano, a Recovery tinha um portfólio de R$ 38 bilhões. O BTG continuou com 30% dessas operações, que eram voltadas para empresas e tinham tíquetes acima de R$ 2 milhões. Esses números ainda não incluíam, porém, créditos oriundos do banco Bamerindus – comprado pelo BTG em 2014 – e do Pan – na qual foi adquirida participação em 2011 -, que agora migram para a Enforce.
Segundo documentos entregues ao Cade, o BTG tem carteiras próprias de créditos inadimplentes e de imóveis cuja gestão ainda é feita pela Recovery e por escritórios de advocacia. A tendência é que isso migre para a Enforce.
À época da venda para o Itaú, era no segmento de crédito para pessoas físicas que a Recovery mais tinha desenvolvido experiência, por isso o interesse do banco de varejo. Desde 2000, ainda sem a sociedade com o BTG, é que a companhia começou a cobrar empréstimos ligados ao consumo.
Só em 2014, com a compra do Bamerindus, é que o BTG começou a desenvolver conhecimento na área de empresas. É nisso que o banco quer se alavancar agora, principalmente em um período em que as companhias brasileiras enfrentam problemas financeiros.
De acordo com Câmara, os bancos estão acumulando no balanço uma série de imóveis que são dados em garantias de operações de crédito, por exemplo. São propriedades que, em geral, trazem algum tipo de problema judicial ou dívidas. De posse desses ativos, o BTG quer regularizar a situação deles para depois vendê-los a preços mais atrativos.
O executivo do BTG diz acreditar que a venda de portfólio de crédito por fundos de pensão, bancos e tradings crescerá nos próximos meses, dada a deterioração da inadimplência por empresas.
Fonte: Blog Televendas
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