Fiesp encaminhou “medidas emergenciais” para o governo e a expectativa é de que instituições financeiras revisem seus processos de concessões de empréstimos para incentivar a economia
São Paulo – A pressão pela redução dos juros e dos spreads nos bancos ganha força nos setores público e privado. Porém, com rentabilidade mais contida e forte aversão ao risco, instituições financeiras deixam a responsabilidade de uma solução nas mãos do Banco Central (BC).
Quatro das sete propostas de curto prazo enviadas pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) ao governo envolvem maior adequação dos bancos à atual situação das empresas, e são consideradas pelos agentes do setor como “medidas emergenciais”.
Segundo José Ricardo Roriz Coelho, vice-presidente da Federação, caso não haja o destrave de crédito, “ninguém vai receber nunca”.
“As instituições financeiras precisam considerar que, no momento de crise, dificilmente as empresas sairão da fragilidade que estão em pouco tempo. Mas também não adianta tirar todo o oxigênio, porque aí as empresas morrem mesmo, e a chance de receber o dinheiro de volta é menor”, identifica Roriz.
Dentre as medidas propostas para os agentes financeiros estão a elevação da concessão de crédito priorizando os refinanciamentos de dívida; a queda mais acelerada dos juros; a redução do prazo de recebimento dos pagamentos feitos com cartão de crédito de 30 para 15 dias; a flexibilização nos parâmetros de análise para concessão; a agilização dos empréstimos para exportação e a liberação dos depósitos compulsórios não remunerados vinculados ao financiamento para empresas inadimplentes.
O vice-presidente da Fiesp ainda ressalta a importância de mecanismos estruturais que “controlem as práticas abusivas do mercado” e promovam a maior concorrência bancária. “Se o empresário cai nas mãos dos grandes bancos, não tem saída. Muitas vezes isso é como um cartel onde você não tem opção de escolha, e isso – para pequenas e médias empresas – causa uma grande dificuldade”, complementa.
Segundo Carlos Henrique Abrão, desembargador da 14ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, no entanto, para que as medidas entrem em vigor é preciso que o Estado pare de “proteger” essas instituições.
“Não adianta viver em juros fantasmagóricos porque, eventualmente, o banqueiro também vai precisar perder dinheiro para a retomada acontecer. Manter a Selic [taxa básica de juros] alta e deixar os juros bancários nesse patamar é só dar atestado de óbito para várias companhias, assim como já aconteceu”, avalia.
‘Lição de casa’
A maior pressão nos bancos, no entanto, já acontece em várias instâncias. Na segunda-feira, por exemplo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, mencionou a importância do repasse da queda na Selic para o crédito nos bancos, em vez de sua absorção nos spreads.
Para Roberto Luis Troster, sócio da Troster & Advogados, porém, o repasse dos juros e a queda dos spreads é “impossível” frente à menor rentabilidade mostrada nos balanços bancários deste ano.
“O sistema financeiro é obsoleto e o recuo na rentabilidade tira a possibilidade de baixar o spread. Os bancos são um mal necessário, mas têm sido um peso pra economia atual.”
Do lado dos bancos, no entanto, a avaliação é de que a responsabilidade ainda está nas mãos do Banco Central.
“Não existe nenhuma solução sem equacionamento dos juros. Se não atacarmos a causa, não há como reduzir spreads ou soltar crédito”, afirma Carlos Hamilton Araújo, vice-presidente de serviços infraestrutura e operações do Banco do Brasil.
“Nenhuma mudança – que não seja insustentável – está fora de cogitação. Mas as instituições precisarão atuar diferente nessa travessia e vai ser uma lição de casa que vai doer em todo mundo”, completa Luís Inácio Dantas, chefe do departamento de classificação de risco do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES).
Fonte: DCI