Após oito anos do governo de Barack Obama, marcado por políticas econômicas voltadas para a recuperação norte-americana da crise de 2008, o presidente eleito Donald Trump assume a Casa Branca no dia 20 de janeiro com propostas polêmicas que terão impactos na economia de outros países, inclusive no Brasil. Para compreendê-los, é importante entender a herança econômica de seu antecessor.
Obama assumiu o posto em um período marcado pela pior crise financeira desde a Grande Depressão de 1929. As consequências para a economia norte-americana deram-se na alta taxa de desemprego, que em 2009 atingiu mais de 10%, e no crescimento negativo do PIB (Produto Interno Bruto) que caiu para 2,4% em 2009, de acordo com o Departamento de Comércio dos EUA, seguido por um déficit público federal que representava 9,8% do PIB.
A fim de combater a crise do subprime causada pelo mau funcionamento dos mercados financeiros e reverter a onda de desemprego, Obama assinou o chamado “2009 Recovery Act” (American Recovery and Reinvestment Act – ARRA). Esse projeto custou mais de US$ 800 bilhões e contribuiu para o aumento do PIB – que passou a crescer após 2009 – e para criação de empregos. A medida segue o que preza a teoria Keynesiana, que defende a priorização da esfera pública em detrimento da esfera privada em períodos de recessão. Visando a recuperação, Obama impôs 560 normas regulatórias que diziam respeito a melhorias nas condições de trabalho, na implantação de direitos iguais a minorias e no suporte para quem havia sido demitido. Além disso, aliado ao excesso de regulação, houve também uma maior rigidez na fiscalização do setor financeiro no país.
No que tange a política externa, foi assinada em 2015 a Parceria Transpacífica (TPP) com outros 11 países (ainda não ratificada pelo Congresso) para liberação do comércio de serviços como engenharia de software e consultoria financeira.
Ao final de seu segundo mandato, o governo Obama conseguiu reduzir a taxa de desemprego para 4,6%, produzindo mais de 11 milhões de empregos (muitos deles precários), aumentando a taxa de crescimento do PIB para 3,5%, seguido por um déficit público federal correspondente a 3,2% do PIB e mantendo a inflação de 1,7% abaixo da meta de 2%. No entanto, houve diminuição da renda média anual e aumento das desigualdades social e econômica.
A partir disso, pergunta-se: o que o recém presidente eleito, Donald Trump, fará com essa “herança” econômica e social deixada pelo seu antecessor? Dentre as propostas de Trump, estão a extinção o acordo da Parceria Transpacífica – em seu lugar, ele pretende fazer acordos bilaterais com alguns dos países para levar as indústrias aos Estados Unidos e, assim, gerar mais empregos. Além disso, Trump pretende reformular o acordo do NAFTA (EUA, Canadá e México), apontando para maiores tarifas como forma de reduzir o déficit comercial com o México e, ainda, aumentar a produtividade do país encorajando o investimento em pesquisas, fábricas e mão de obras nacionais.
Essa lógica de preservar empregos nos Estados Unidos e reduzir o déficit americano nas transações internacionais possuem consequências cunhadas por economistas como “Efeito Trump”. É importante ressaltar que a pirâmide etária, em alguns anos, será composta por um número maior de população economicamente inativa, o que reforça a necessidade do uso mão-de-obra imigrante. Além disso, a ameaça de sobretaxa a fábricas construídas fora dos EUA já teve consequências: a Ford cancelou o investimento de US$1,6 bilhão no México. Nesse sentido, multinacionais com diversas fábricas ao redor do globo podem ser afetadas
Mas de que forma o Brasil seria afetado pelas propostas de Trump? Primeiro, ele ameaçou taxar em 45% os produtos importados da China. Se isso de fato ocorrer, afetará a atividade econômica chinesa, a reduzirá suas importações commodities, acarretando prejuízos para as exportações brasileiras. O protecionismo de Trump também afetará nossa exportação de soja e carne para os Estados Unidos.
Caso essas medidas entrem em vigor, é provável que ocorra uma inflação de preço nos EUA, já que o custo de produzir nos EUA é bem maior que na China e em países em desenvolvimento. Se isso ocorrer, o Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos – Fed) pode aumentar a taxa de juros. Para não perder capital investido, é possível que nossa queda da Selic seja interrompida – caso não seja, perderemos um fluxo de dólares o que pode gerar inflação.
Em suma, em razão das políticas norte-americanas implantadas promovendo o bem-estar social e combatendo a crise financeira durante o governo de Barack Obama, Donald Trump herdou um período de maior crescimento econômico em comparação a 2009. Contudo, um protecionismo exacerbado do novo governo poderá ter consequências negativas para a economia mundial, sobretudo para os países emergentes.
Fonte: G1