Quanto mais demorar para as reformas acontecerem, mais tempo levará para as taxas de desemprego caírem
Taxas de desemprego, nos períodos recessivos, sobem muito rapidamente, mas demoram muito tempo para caírem, mesmo quando acontece a retomada do crescimento econômico. Vale citar, como exemplo, o que ocorreu em alguns países europeus que sofreram com os episódios financeiros de 2008. Espanha, França, Itália e Portugal, depois de oito anos, ainda não conseguiram retornar aos níveis de emprego que tinham no primeiro lustro dos anos 2000. A Alemanha é uma exceção, pois já alcançou os patamares anteriores, em termos de nível de emprego.
Esses países entraram em recessão a partir de 2008, tiveram de fazer reformas, saíram da recessão, mas as taxas de desemprego ainda vêm recuando lentamente. Todos eles apresentaram, em 2007, um PIB positivo. Já em 2008 o crescimento econômico diminuiu significativamente e em 2009 a recessão mostrou sua dimensão: o PIB da Alemanha foi de -4,7%; o da Espanha, -3,7%; o da França, -2,5%; o da Itália, -5,1%; e o de Portugal, -2,6%. A partir daí, foram vários anos de PIB negativo ou de crescimento praticamente inexpressivo. Mesmo a Alemanha, que cresceu 3,5% em 2010 e 3,1% em 2011, amargou em 2012 um PIB de 0,7%; e em 2013, de 0,5%.
Até 2007, essas nações tiveram taxa de desemprego abaixo de 7%. Mas a partir de 2008 ela começa a crescer com muita rapidez. De lá para cá, a Alemanha atingiu sua maior taxa em 2008, 7,9%; a Espanha, em 2013, 26,9%; a França, em 2012, 10,7%; a Itália, em 2014, 12,7%; e Portugal, em 2014, 17,5%. Embora esses países já tenham saído do período recessivo, ainda não conseguiram ter o nível de emprego nos patamares anteriores ao início da crise, exceto a Alemanha, que hoje tem taxa de desemprego de 5,9%. A Espanha está com 18,9%; a França, com 10%; a Itália, com 11,9%; e Portugal, com 10,5%.
Todos esses países fizeram reformas em suas relações trabalhistas, visando a recuperar os postos de trabalho perdidos. Suas taxas de desemprego continuam a mostrar sinais de queda também para este ano. Mas o que quero salientar é a demora para elas serem reduzidas. Imagine, então, se esses países não tivessem intervindo nas suas relações trabalhistas. Provavelmente, as taxas de desemprego estariam ainda subindo.
É neste contexto, observando o que outros países passaram e fizeram, que temos de entender a importância e a urgência de fazer as reformas aqui, no Brasil. Quanto mais tempo demorar para elas acontecerem, muito mais tempo levarão as taxas de desemprego para entrarem em declínio, de forma significativa.
O desemprego, no quadro recessivo, sobe rapidamente porque, além de as demissões irem aumentando, a ausência de investimentos na economia impede a criação de postos de trabalho. Somados aos que perderam seu emprego e não conseguem se recolocar, há os novos profissionais que estão ingressando no mercado e que também não têm oportunidade de trabalho. O resultado disso é a taxa de desemprego crescer rapidamente.
Servindo-se da indústria como exemplo, a capacidade ociosa dela hoje no País gira em torno de 25%. Portanto, mesmo com uma retomada do crescimento econômico, esta ociosidade tem de ser, num primeiro momento, derrubada. Apenas num segundo momento, quando se elimina essa ociosidade, é possível a recolocação das vagas de trabalho que tinham sido fechadas por causa da crise. A consolidação efetiva do crescimento econômico só se dará num terceiro momento. Aí, sim, se observa, de forma consistente, a criação de postos de trabalho.
Fato é que a quebra deste ciclo de elevado nível de desemprego, infelizmente, é muito lenta. A taxa de desemprego no Brasil, hoje beirando 13%, só começará a cair para valer se as reformas acontecerem, ainda assim levando um tempo considerável, pois este é um passo fundamental para que surjam novos investimentos. São eles os geradores de empregos. Não existe outra maneira, ao menos sustentável.
*professor de Recursos Humanos e Relações Trabalhistas da FGV-SP
Fonte: Estadão