Mais que um sonho comum à maioria das mulheres, a maternidade é também um divisor de águas na vida delas. Afinal, junto com o bebê também nasce uma nova mulher, que passa a ter mais responsabilidades, mais receios e novas necessidades. Entre elas, a de ter uma agenda mais flexível e carga horária menor, a fim de ter tempo para dedicar aos filhos.
Porém, muitas vezes sem muita perspectiva de carreira no mercado de trabalho ou ainda uma eventual demissão, é após o período de licença-maternidade que a profissional repensa suas escolhas e opta por empreender. De acordo com levantamento realizado pela Rede Mulher Empreendedora, de cada cinco novas aspirantes ao mundo dos negócios, quatro optaram pelo empreendedorismo depois de se tornarem mães.
No entanto, executivas do segmento de Crédito e Cobrança provam que conciliar profissão e família é possível sim. Mais que possível, voltar ao trabalho é essencial para a saúde emocional e mental da mulher que, com muita disciplina e planejamento, consegue dar conta dos papéis que lhe são exigidos.
É o caso de Leda Maria de Angelis, uma das sócias da LM Angelis, responsável pelo jurídico do Grupo NovaQuest, advogada, a executiva atua na empresa desde 2007. Mãe de um menino de sete anos e uma menina de três, Leda conta que sempre conciliou o lado corporativo com a família. “A chave do sucesso para se sair bem nesta dupla jornada é o apoio familiar. No mundo corporativo, quando somos mães, sentimos um preconceito maior. Acredita-se que as mães já não serão profissionais tão dedicadas”, observa.
Leda conta que tem exemplos que mostram exatamente o contrário. Ela faz parte de um grupo de amigas em que todas respondem por cargos importantes em grandes corporações. A própria executiva não foge à regra. “Minha maior dificuldade é deixar toda a rotina dos meus filhos organizados. Tenho uma ótima funcionária e planejo todas as atividades do dia antes de sair de casa. Que horas vão ao inglês, ao ballet, ao futebol. Ter esta organização é essencial, caso contrário eu trabalharia com ‘a cabeça em casa’. Com tudo organizado, não preciso dar uma ligação durante o dia para saber como eles estão. E se eles me ligam, é porque realmente algo aconteceu”, continua.
Uma vez comprometida e eficiente no trabalho, em casa Leda assume o compromisso de se dedicar exclusivamente à família. “Todos os momentos que tenho com eles é de muita qualidade. Encaro os compromissos com os meus filhos como uma reunião. Se estou ali com eles, não vejo e-mails ou WhatsApp”, acrescenta.
Marcilene Matos Rodrigues, superintendente da J.A Rezende, concorda com a postura de Leda. Mãe de um menino de seis anos, Marcilene soma 17 anos de experiência na área de cobrança e conta que a maternidade a tornou uma pessoa e profissional melhor. “Fiquei mais equilibrada e mais forte, mais humanizada. Hoje consigo olhar as pessoas além do estereótipo”, conta ela.
A primeira dificuldade que Marcilene enfrentou após o nascimento do filho foi voltar ao trabalho. “Não ter os olhos em cima dele durante todo o tempo era muito ruim. Mas depois do primeiro mês, percebi que existe vida após à maternidade e é saudável voltar para as rotinas e papéis que eu tinha, pois eu não era apenas mãe. Também sou mulher, esposa e profissional”, lembra ela, que alugou um flat em frente à empresa para amamentar a criança durante os intervalos do expediente até que o menino completou um ano.
Hoje, ser mãe e executiva continua sendo um desafio, especialmente no que se refere às agendas dela e da criança. “Quando bebê, ele não me cobrava atenção. Mas depois de aprender a falar, ele começou a questionar por que eu não o levava e buscava na escola, como as outras mães faziam”, confessa.
Para driblar este contratempo, Marcilene investiu em orientação profissional. Fez três sessões de terapias com uma psicóloga especializada em família e hoje aposta na qualidade, e não na quantidade, do tempo que dedica à família. “Antes de ele entrar na escola, nos falamos por vídeo. Ele divide a rotina dele comigo e eu também divido um pouco da minha com ele. Assim, como sabe que tenho dias em que sou muito exigida, ele já adianta: ‘Vou me comportar, porque hoje você está cansada, né, mamãe?’”, conta.
A superintendente da J.A. Rezende conta ainda que desde a maternidade, ela se atenta para não estender o horário de trabalho, pois assim ela consegue ajudar o menino nas lições de casa e fazer programas em família ao longo da semana. “Converso com a empresa e saio mais cedo em alguns dias para ir às reuniões escolares, pois é a oportunidade de conhecer outro lado do meu filho. Posteriormente, compenso estas horas”, relata.
Muito além da obrigação
Diretora Corporativa de RH da Flex Contact Center, Angela Casali conta que sempre gostou de trabalhar e, por isso, nunca o viu como uma obrigação, mas como fonte de conhecimento e desenvolvimento pessoal. Assim, voltar ao mundo corporativo após a maternidade era um caminho natural para ela. “Hoje, afirmo que sou uma mãe melhor pelo fato de trabalhar. Tive de reduzir minha carga horária. Antes eu não me importava de ficar até tarde no trabalho, mas hoje em dia com as crianças, saio às 18 horas e começo um novo trabalho, que é o de ser mãe, cuidar, brincar, alimentar e atender todas as necessidades deles”, resume.
E, para ter tranquilidade durante o expediente de trabalho, ela apostou no desenvolvimento dos filhos ao inscrevê-los em uma escolinha. “Meus dois filhos ficam na escola enquanto estou no trabalho, pois acredito que a escola ajuda no desenvolvimento, na aprendizagem e gera um ciclo de benefícios para as crianças. Mesmo se eu não trabalhasse, não deixaria de colocá-los na escolinha”, finaliza.
Planejamento
Ariane Abreu, diretora comercial da Total IP, está prestes a viver as benesses da maternidade. No último trimestre da gestação, ela conta que já prepara a volta ao trabalho antes mesmo do afastamento da empresa. “O meu período licença-maternidade está sendo planejado desde o início da gravidez, tanto para o lado profissional quanto pessoal. Aqui na Total IP, cuido de uma área importante, a Comercial. Todos da minha equipe estão sendo preparados. Também estou me acostumando a reduzir o ritmo no final da gravidez. No retorno ao trabalho, o planejamento é até os 12 meses ter o auxílio da minha mãe e uma secretária do lar para os períodos de trabalho”, conta.
A expectativa da diretora comercial é se aproveitar dos benefícios oferecidos pela empresa a todos os colaboradores, como horários flexíveis e a possibilidade de trabalhar de casa uma vez por semana. Ainda assim, ela acredita que terá conflitos para equilibrar a atenção dedicada à família e trabalho, dificuldade comum a todas as mulheres. “Porém, tenho procurado entender que a perfeição não existe! O segredo é me dedicar ao máximo no tempo disponível para cada atividade”, defende.
Fonte: Blog Televendas