Apesar de novas regras, é melhor recorrer ao empréstimo de banco ou fintech do que dever para o cartão de crédito
Com as novas regras que proibiram o uso do rotativo do cartão de crédito por mais de 30 dias, bancos passaram a ter de oferecer alternativas mais baratas para o consumidor refinanciar sua dívida. Porém, como cada instituição estabeleceu os próprios procedimentos, quem fizer o pagamento mínimo da fatura deve redobrar a atenção com as taxas de juros. Segundo o Banco Central, os encargos tendem a subir na categoria parcelada do cartão à medida que mais pessoas migrem para ela.
Os juros do rotativo registraram queda em abril e ficaram em 296,1% ao ano, ante os 431,1% praticados no mês anterior, segundo o BC. Porém, no parcelado do cartão (quando o cliente decide refinanciar o total de sua dívida), as taxas subiram de 158,5% para 161,6% ao ano no mesmo período. No parcelado migrado, uma nova categoria criada com as novas regras, os juros ficaram em 151,2% ao ano em abril. Ela é acionada automaticamente quando o consumidor ultrapassa 30 dias no rotativo.
Alguns consumidores foram pegos de surpresa com as mudanças. O radialista Victor Albuquerque pagava o valor mínimo de sua fatura há alguns meses e acreditava que conseguiria quitar a dívida de R$ 1 mil em junho. O débito, porém, se transformou em R$ 2,9 mil, que foram parcelados em 12 meses. “O banco avisou na fatura anterior, mas sem nenhum destaque. Não tive escolha”, diz o jovem, que tenta a renegociação.
Diante das taxas de juros ainda altas, o professor de finanças da Fecap, Joelson Sampaio, recomenda que o consumidor endividado estude as opções oferecidas pelas instituições. “Se a pessoa conta com um consignado (empréstimo com desconto em folha), pode valer muito mais a pena tomar um empréstimo e pagar o que deve”, diz. A média dos juros cobrados por bancos nessa modalidade era de 28,2% ao ano em abril, segundo o BC. Para o trabalhador do setor privado, o patamar era de 43,2% ao ano.
Porém, antes de tomar crédito para pagar a dívida do cartão, é preciso planejamento, alerta a professora de finanças do Insper Juliana Inhazs. “Se a pessoa se compromete a pagar e não consegue, pode se complicar ainda mais”, explica. Vale lembrar que, uma vez endividado no cartão de crédito, o consumidor pode não ter acesso a taxas de juros tão baixas. Por isso, comparar é fundamental.
“O conselho é que o consumidor tente não recorrer ao rotativo ou parcelamento, pois são as modalidades mais caras”, diz a advogada Sônia Amaro, da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste).
Alternativas. Startups especializadas em empréstimos – as chamadas fintechs de crédito – e cooperativas geralmente oferecem taxas de juros abaixo da média do mercado. No caso da Just, a cobrança varia entre 39,3% e 130,3% ao ano. O prazo de pagamento vai de seis meses a dois anos.
Na concorrente Geru, as taxas variam de 30,8% a 108,4% ao ano. O prazo de pagamento vai de um a três anos.
Para quem possui um imóvel quitado para oferecer como garantia, a fintech Creditas tem taxas entre 16,08% e 29,98% ao ano. O empréstimo deve ser de pelo menos R$ 30 mil até o equivalente à metade do valor do imóvel. O prazo para o pagamento é de até 15 anos.
Também é possível dar um veículo como garantia na Creditas. Nesse caso, as taxas vão de 32,3% a 94,49% ao ano e o prazo para pagar é de até cinco anos. O total emprestado tem o piso estabelecido em R$ 2 mil até o equivalente a 80% do valor do automóvel.
O Sicredi, uma cooperativa de crédito que está presente em 20 cidades brasileiras, oferece para os seus cooperados uma taxa que gira na média de 213% ao ano.
Cada empresa faz sua própria análise da situação financeira do consumidor e decide conceder ou não o empréstimo. Os fatores mais levados em conta são a renda a o histórico da vida financeira junto a birôs de crédito, como Boa Vista SCPC e Serasa.
O que mudou no rotativo do cartão de crédito?
O consumidor que pagar o mínimo da fatura (15% do total) só pode ficar 30 dias no rotativo, cuja taxa de juros encerrou abril em 296,1% ao ano. Depois, ele é migrado para uma linha mais barata, com juros definidos de acordo com o perfil de crédito. A média dessa taxa ficou em 151,2% ao ano naquele mês.
E o que acontece se eu não pagar o mínimo da conta?
Nesse caso, o juros da fatura do primeiro mês é 524,1%.
Quais as alternativas?
Segundo analistas, é preferível recorrer às linhas de crédito consignado dos bancos. A média desse tipo de financiamento, de acordo com dados do Banco Central, é de 28,2% em abril. Quem não conta com essa opção, pode analisar as fintechs ou cooperativas de crédito.
Fonte: Estadão