Vale a pena fazer curso no exterior desempregado?

Trabalhei por doze anos em uma renomada -, onde ocupei um cargo de média gerência. Fui demitido há quatro meses e venho tentando me recolocar desde então. Como não tenho encontrado oportunidades atraentes por aqui, comecei a considerar passar um ano na Europa. Usaria esse período para fazer um curso de especialização, melhorando meu currículo e meu inglês. O problema é que eu teria que gastar praticamente todas as minhas reservas financeiras nesse projeto e não sei até quando vai a crise que estamos vivendo no Brasil. Como tenho esposa e uma filha pequena, tenho medo de continuar desempregado ­ e sem dinheiro ­ quando voltar ao país. O que devo fazer?

Gerente, 38 anos

Resposta:

Há alguns anos, uma revista pediu a líderes empresariais que revelassem os conselhos mais úteis que receberam na vida. Lembro-­me bem da resposta do Dr. Ozires Silva, fundador da Embraer: “compareça, esteja presente”. O que ele queria dizer é que precisamos estar sempre expostos às oportunidades que podem surgir nos mais diversos eventos, seja um lançamento de livro, uma palestra ou uma festa de aniversário. Grandes coisas acontecem nesses momentos. Quem não é visto não é lembrado, e não se iluda com a ideia de que as mídias sociais modificaram essa máxima.

Práticas como sabáticos, ou mesmo home offices, têm seus ganhos e perdas ­ e as perdas são justamente por nos deixarem “longe dos olhos e do coração”. Não é que essas coisas nunca devam ser feitas, mas seus custos e benefícios precisam ser muito bem pesados em cada caso, bem como o “timing” e medidas compensatórias da ausência.

No seu caso, passar um tempo na Europa e fugir desse cenário econômico desastroso que estamos vivendo seria como realizar um sonho, mas não acho que seja para agora. Preparar­se é uma boa ideia, mas você não precisa ir para o exterior para melhorar seu currículo ou adquirir fluência em inglês. Aqui há boas ofertas, e pagas em real.

Duas circunstâncias conspiram para você adiar esse sonho. A primeira é que sua reserva financeira é limitada e extremamente importante para lhe dar tranquilidade emocional. Tendo essa reserva você pode avaliar com calma as propostas de emprego e aceitar a que estiver mais alinhada com seus objetivos de carreira. A segunda é que ir para o exterior agora só o distanciará do novo passo a ser dado em sua carreira. Ou seja, se você viajar para a Europa, ficará muito mais difícil estar na hora certa, no lugar certo e com a pessoa certa que precisa do seu perfil profissional.

Estar há quatro meses disponível no mercado não é o fim do mundo no atual momento brasileiro. O intervalo considerado aceitável pode até aumentar, pois quanto mais profunda a recessão, mais tempo leva uma recolocação. O que você pode fazer é, além de manter a calma e ser cauteloso com sua reserva, ficar no radar das pessoas e adquirir diferenciais competitivos para aumentar sua empregabilidade.

Permita­me falar agora de seu novo projeto de carreira. Você está seguro do que busca, em termos de segmentos de negócios e área de atuação? As competências que você adquiriu até aqui certamente podem ser transferidas para outras atividades que você nunca levou em consideração. Novas posições estão sendo criadas, até em função do natural movimento de fusões e aquisições em tempos de crise. Torne­se um profissional adaptável a novos contextos e desafios. Não descarte trabalhar em startups, que estão com apetite para criar negócios e precisam de gente experiente como você.

O mercado está avaliando as atitudes dos candidatos em uma profundidade nunca vista antes. Você conhece bem seus valores, motivadores e comportamentos? Eles podem ser seu ingresso em uma nova empresa. Mergulhe de cabeça nessa fase da visibilidade. Em vez de pensar na Europa, faça muitos contatos no Brasil ­ atualizando os antigos e conquistando novos ­, compareça a eventos e ofereça­se para dar palestras. As mídias sociais ajudarão a fortalecer essa atividade presencial.

Abordando o mais óbvio, você já enviou seu currículo para todas as consultorias de executive search? Se for o caso, busque a ajuda de consultorias de carreira, mas certifique­se de que sejam sérias (muitas se aproveitam da fragilidade das pessoas na crise oferecendo, por exemplo, vagas imediatas a quem desembolsar uma determinada quantia).

Alguns de nós demoram mais que outros a desatar, mas o novo trabalho chegará. Basta que você redobre sua dedicação aqui e agora. E que compareça, como o Dr. Ozires sempre fez.

Fonte: Blog Televendas