Alta na informalidade não antecipa volta do emprego formal, diz estudo

No ano passado, economistas afirmavam que aumento no número de trabalhadores informais traria de volta as vagas formais, mas levantamento feito pelo Credit Suisse com base em outras seis recessões vividas pelo País descarta tese

O aumento no número de trabalhadores informais não garante que uma recuperação do mercado formal virá em seguida, ao contrário do que acreditavam muitos economistas no ano passado, quando houve queda no nível de desemprego do País sobretudo entre os trabalhadores sem carteira assinada. Estudo do Credit Suisse obtido com exclusividade pelo Estado aponta que a recuperação do mercado informal antecedeu a do formal em apenas dois de seis períodos de crise desde 1992.

“Não há evidências de que o mercado informal antecipa a recuperação”, frisa o economista-chefe do banco suíço, Leonardo Fonseca, que analisou o que ocorreu no emprego nos dez trimestres seguidos após seis recessões. Apenas em 1999 e em 2003 a recuperação do informal antecedeu a do formal. Nos outros episódios, houve uma situação (2009) em que o inverso foi registrado e casos (1992 e 1995) de contínua deterioração dos indicadores de trabalhadores com carteira assinada enquanto aumentava o número dos sem carteira. A crise de 2001 teve um comportamento diferente das demais: inicialmente, houve uma melhora nos dois mercados, mas uma nova crise na economia entre 2002 e 2003 fez com que o formal estagnasse e o informal avançasse. 

“Tentamos ver se a relação entre recuperação da economia e melhora do mercado informal aconteceu em outras recessões. Não observamos que a população informal reage primeiro e a formal vem depois. Só há relação estatística entre atividade econômica e mercado formal”, acrescenta Fonseca.

Uma recuperação no número de trabalhadores com carteira assinada, portanto, só vai ocorrer quando a economia voltar a crescer a um ritmo mais expressivo. “O mercado informal tem custos menores. É mais fácil ele reagir. Mas uma retomada do formal só vai acontecer quando a economia se consolidar.”

Se o PIB avançar 2% em média nos próximos anos (o Credit projeta 1,8% para 2018), a taxa de desemprego voltará à casa dos 7%, registrada em 2014, apenas no primeiro trimestre de 2023, apontam cálculos do banco. No trimestre entre março e maio deste ano, o desemprego ficou em 12,7%, atingindo 13,2 milhões de pessoas.

Um ano atrás, o Credit fez uma simulação semelhante que indicava que o patamar poderia ser atingido antes – no terceiro trimestre de 2022. O desempenho pífio no início deste ano, porém, mudou as projeções. Caso o PIB crescesse 4%, em média, a recuperação ocorreria em setembro de 2021.

Consumo

Ao contrário das outras recuperações analisadas, em que a retomada foi impulsionada pelo aumento nas exportações e, depois, nos investimentos, a atual está mais baseada no consumo, o que também reduz o nível de contratação, segundo Fonseca. “Houve, por exemplo, o estímulo do FGTS no ano passado. Há características mais temporárias. O nível de incerteza política também é alto. Isso tudo reflete na expectativa de contratação.”

Para realizar o estudo, o economista usou dados da Pesquisa Mensal do Emprego, feita pelo IBGE até fevereiro de 2016 com informações das regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. 

Fonte: Estadão