Previsão inicial de até 1 milhão de vagas com carteira foi revisada por economistas para uma faixa entre 350 mil e 450 mil. País só deve recuperar patamar pré-crise a partir de 2021.
No final de 2017, o vendedor técnico Klinger e a analista de riscos Beatriz acreditavam que, no ano seguinte, o mercado de trabalho iria melhorar e eles conseguiriam ter de novo um emprego. Metade de 2018 já passou e, até agora, isso não aconteceu. Com a frustração das expectativas para a economia e o desemprego ainda elevado, a desaceleração do ritmo de contratações tem levado economistas a revisarem para baixo o número de vagas com carteira assinada previstas para este ano.
A estimativa inicial era de até 1 milhão de novos postos de trabalho em 2018. Nas novas projeções de cinco consultorias ouvidas pelo G1, o número foi cortado para menos da metade, e agora está na faixa entre 350 mil e 452 mil.
Com as sucessivas revisões para baixo do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018 e após os números decepecionantes de maio e junho, os economistas passaram a prever uma quantidade menor de vagas criadas no mercado formal. Veja no gráfico abaixo:
Projeções para a criação de vagas de emprego em em 2018 (Foto: Infografia: Igor Estrella/G1)
A maior redução foi da Tendências Consultoria, que mudou sua projeção inicial de 1 milhão de vagas formais para a estimativa atual de 350 mil – 65% a menos.
O economista Thiago Xavier explica que a mudança das expectativas para o mercado de trabalho segue a piora das projeções para a economia como um todo – que mudaram depois do desempenho mais fraco que o esperado no começo do ano, além do cenário externo mais conturbado e das incertezas envolvendo as eleições presidenciais.
O próprio governo federal reduziu recentemente sua previsão de crescimento do PIB neste ano de 2,5% para 1,6%. Até maio, estava em 2,97%.
“Uma economia que cresce menos gera menos vagas, principalmente aquelas de melhor qualidade”, afirma Xavier.
Em junho, a economia brasileira fechou 661 vagas formais, segundo números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. Foi o primeiro resultado negativo para um mês de 2018. Mas a criação de vagas já vinha desacelerando. Em maio, foram criadas 37.889 vagas, uma redução na comparação com as 124.911 em abril.
“O dado do Caged de junho foi bastante decepcionante, e reflete de certa forma a perda de confiança dos empresários na economia”, diz Luiz Fernando Castelli, da GO Associados.
Saldo parcial de 392 mil vagas no ano
No acumulado do 1º semestre, o Brasil gerou 392.461 empregos com carteira assinada, a maioria (71%) deles no setor de serviços. Por outro lado, o comércio perdeu 94.839 vagas nesse mesmo período.
Em todo o ano de 2017, a economia brasileira fechou 20.832 postos de trabalho formais. Foi o terceiro ano seguido em que houve mais demissões do que contratações no país. Entre 2015 e 2017, o país fechou um total de 2,88 milhões de vagas de emprego, a maior parte delas na construção civil e na indústria.
Para os próximos meses, a expectativa é que a geração de vagas continue fraca, mas não necessariamente estagnada ou no negativo.
Os economistas lembram que os meses de agosto e setembro geralmente registram bons números, em função da contratação para as festas de fim de ano. “A projeção contempla retomada da criação de vagas nos próximos meses e um resultado negativo em dezembro, típico do mês”, explica Castelli.
Pelas projeções da GO Associados, mantido o ritmo atual e as estimativas para o PIB, o mercado de trabalho só deverá recuperar os 3 milhões de postos formais perdidos nos últimos 3 anos e retomar ao nível de emprego pré-crise a partir de meados de 2021.
“A expectativa é que a partir de 2019, com um novo governo, comprometido com o andamento das reformas econômicas, a geração de vagas volte a acontecer em ritmo mais rápido. De toda forma, é difícil imaginar que o país recupere o nível de empregos formais antes de 2021”
Expectativas frustradas
Klinger Neto, que tem 53 anos e atuava como vendedor técnico, está fora do mercado formal desde 2016. “A economia parecia uma carreta que tinha ido rápido ladeira abaixo, e para subir seria devagarinho, pegando o embalo. A gente tinha uma expectativa de melhora. Mas começou a estourar um monte de problema”, resume ele.
Klinger diz que envia currículos todos os dias para concorrer a vagas que encontra em sites de emprego. “Nesses 2 anos e pouco procurando, tive uma ligação só para entrevista.”
Buscando incrementar seu currículo, ele tem feito cursos de qualificação, e agora espera que consiga resultados. “Tenho só uma pequena renda de aluguel”, afirma Neto.
Desempregada há 1 ano e 2 meses, Beatriz, que tem 37 anos e prefere não ter seu sobrenome divulgado, vive um sentimento parecido. “Eu achei que ia melhorar, até porque sou bem otimista. Mas a situação da economia vai assustando, tem muita gente qualificada buscando recolocação”, diz ela.
Beatriz trabalhou por 18 anos em uma empresa como analista de riscos. Quando foi desligada, tentou encontrar uma vaga com salário equivalente ao anterior, mas esse objetivo já mudou. “Meu desafio é ser recolocada”, diz ela.
Desalento e subocupação
Com a economia crescendo em ritmo lento, o aumento da quantidade de pessoas que desistem de procurar emprego (o chamado desalento) também entra nos cálculos de projeções dos economistas. Também está sob as atenções o número de pessoas subocupadas, ou seja, trabalhando no mercado formal, porém menos horas do que desejam.
Em relatório divulgado pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), os analistas Fernando Holanda Barbosa Filho e Tiago Cabral Barreira atribuem “a redução da força de trabalho ao desestímulo dos trabalhadores subocupados ao trabalho”.
“A fraca retomada do mercado de trabalho ao longo de 2018 teria contribuído para a saída de pessoas desempregadas e/ou subocupadas para a inatividade”, destacam os economistas.
A taxa de desempego no Brasil ficou em 12,7% no trimestre encerrado em maio, atingindo 13,2 milhões de brasileiros. Apesar do leve recuo nos últimos meses, tem se mantido acima dos índices registrados no ano passado.
Com a recuperação mais lenta do mercado de trabalho, as projeções para a taxa de desemprego foram revisadas para cima. No começo do ano, as 5 consultorias ouvidas pelo G1 estimavam uma taxa média até 10%. Agora, a projeção está acima de 12% para 2018.
O economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, revisou a sua projeção para a taxa de desemprego de 10,5% para 12,4%. Segundo ele, o ritmo extremamente lento de recuperação sugere uma trajetória “inédita” de saída de recessão, com a queda da atividade impactando inclusive a composição do mercado de trabalho.
“Aparentemente, temos o colapso do padrão de consumo que vigorou entre 2005 e 2012 ou 2013, que correspondeu ao perfil do emprego, com ênfase em serviços, e rendimentos do trabalho mais altos. O que era virtuoso virou vicioso”, diz.
Trabalho temporário aumenta
Em meio à fraqueza da economia e incertezas sobre o futuro, as vagas temporárias vêm ganhando a preferência de muitos empregadores. Dados da Associação Brasileira de Trabalho Temporário e da Caixa Econômica Federal mostram que o número de contratações temporárias nos três primeiros meses do ano subiu mais de 17% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Segundo Marcos Aurélio de Abreu, vice-presidente da associação, a previsão para o ano é que as contratações temporárias subam 10% frente a 2017.
Em nota, Michelle Karine, presidente da associação, explica que “em momentos de incertezas na economia, fica difícil para as empresas investirem em despesas fixas, sem saber ao certo o que vai acontecer. Nesse sentido, considerando uma possível demanda da empresa, o trabalho temporário é a alternativa mais viável”.
Abreu acrescenta que o crescimento também se deve às mudanças na legislação trabalhista, que ampliou o prazo máximo permitido para a contratação temporária de 90 para 180 dias.
Fonte: G1