RIO – Um desejo maior pelo consumo levou ao aumento de famílias endividadas em julho. É o que mostrou a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) ao anunciar a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).
No levantamento, o percentual de famílias que se declararam endividadas subiu de 58,6% para 59,6% entre junho e julho, o maior desde abril deste ano (60,2%). Entretanto, ainda se posicionou abaixo de julho do ano passado (60,2%). Ao mesmo tempo, não houve piora nos indicadores de inadimplência, no mesmo período.
Para Marianne Hanson, economista da CNC, a elevação entre junho e julho não representa piora no cenário de endividamento, e, sim, um sinal de que as famílias viram uma janela de oportunidade em seu orçamento para efetuar compras e, com isso, assumiu novas dívidas.
“Creio que o que aconteceu, para elevar endividamento, foi uma recuperação do crédito direcionado ao consumo”, observou ela.
Não houve piora
A especialista notou que, na pesquisa, exceto a parcela de famílias endividadas, os outros tópicos relacionados a endividamento e inadimplência apresentaram queda ou estabilidade.
Entre os endividados, a fatia dos que admitiram contas ou dívidas em atraso foi de 23,7% em julho, igual a de junho e inferior a de julho do ano passado (25,5%). O percentual daqueles que admitiram não ter condições de quitar seus débitos foi de 9,4% em julho, também igual ao de junho e menor do que o de igual mês em 2017 (9,9%).
Além disso, a parcela média de renda comprometida com dívidas permaneceu em 29,5% entre junho e julho, sendo inferior a de julho do ano passado (29,8%).
“Não acreditamos que é um dado negativo [o aumento na parcela de endividados]”, disse Marianne. “Se olharmos todos os dados da pesquisa, não houve uma piora no endividamento das famílias”, completou, reiterando que, como os outros tópicos não mostram quadro desfavorável, o mais provável é que tenha ocorrido uma alta de endividamento para novas compras.
Ao falar sobre o futuro, a especialista foi cautelosa. Ela comentou que ainda há incertezas em relação ao futuro, como o acirramento da corrida presidencial, que torna o cenário político mais turbulento, e a ausência de sinais de melhora mais robustos no mercado de trabalho.
No entanto, ressaltou que os sinais até o momento são favoráveis ao consumo das famílias, com discreta melhora na oferta de crédito, juros baixos e inflação controlada.
“Embora o mercado de trabalho não esteja ainda em recuperação, as famílias sentem que tem espaço na sua renda para aumentar endividamento. Temos indicadores que favorecem crescimento do crédito”, observou.
Na pesquisa, entre as modalidades de dívida mais lembradas pelo consumidor endividado estão cartão de crédito mais uma vez na primeira posição (77,7%); seguido por carnês (13,9%); e financiamento de carro (10,6%).
(Alessandra Saraiva | Valor)
Fonte: Valor Economico