Dados do Ipea divulgados na quinta-feira, 20, mostram um aumento na proporção de trabalhadores que ficaram desempregados e no trimestre seguinte desistiram de voltar ao mercado de trabalho; de 11,2%, no início de 2016, para 16,7% no último trimestre
RIO – A proporção de brasileiros que ficam desempregados e logo desistem de procurar emprego tem aumentado nos últimos dois anos, segundo estudo divulgado nesta quinta-feira, 20, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). São trabalhadores que nem chegam a entrar na fila do desemprego, que hoje tem 12,9 milhões de pessoas, embora tivessem condições de trabalhar.
O IBGE classifica como “desalentado” o trabalhador que desiste de procurar emprego porque não consegue trabalho, ou não tem experiência, ou é muito jovem ou idoso, ou não encontra trabalho na localidade. No trimestre encerrado em julho, 4,8 milhões de brasileiros estavam nessa condição, maior patamar da série histórica, iniciada em 2012 pelo IBGE.
Segundo o estudo do Ipea, entre os trabalhadores que saíram do emprego e viraram inativos no trimestre seguinte, a participação dos desalentados subiu de 11,2%, no início de 2016, para 16,7%, no segundo trimestre de 2018 – o restante estava na inatividade por outros motivos, como simplesmente não querer trabalhar. Os pesquisadores do Ipea usaram dados do IBGE que “rastreiam” um mesmo entrevistado ao longo do tempo.
Tipicamente, o trabalhador passa ao desalento depois de ficar um longo período procurando emprego sem sucesso. Esse ainda é o comportamento majoritário, disse a pesquisadora Maria Andréia Parente Lameiras, uma das autoras do estudo do Ipea, mas o aumento da transição direta para o desalento chamou a atenção. “Isso pode indicar que a percepção do trabalhador sobre o mercado de trabalho é ruim. Ele escuta o noticiário e vê uma economia que cresce pouco”, disse Maria Andréia.
É o caso de Célio Lima, de 25 anos, que já trabalhou na construção civil como gesseiro e desistiu de procurar emprego. “Vou esperar até que as obras voltem. Agora está tudo parado.” Sem ensino fundamental completo, nem cursos técnicos, hoje ele vive de doações em um assentamento na zona oeste de Natal junto com outras 73 famílias.
O nível elevado de desemprego também influencia essa percepção, já que o trabalhador demitido geralmente conhece colegas que foram dispensados e não conseguiram se recolocar no mercado. “Recentemente, uma combinação de fatores induzem a pessoa a não participar do mercado de trabalho”, disse Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV). Entre eles, estão os baixos salários de admissão e o desemprego de longa duração.
No caso das mulheres, segundo Barbosa Filho, é comum que elas fiquem em casa cuidando dos filhos, por valer mais a pena do que pagar creche e transporte.
Embora tenha havido uma recuperação do ano passado para cá, o mercado de trabalho continua fraco. Os economistas lembram que a queda do desemprego foi puxada pelo crescimento de empregos informais e, também, pelo avanço do desalento, uma vez que só é considerado desempregado quem está procurando emprego. “O desalento está ‘mascarando’ a queda do desemprego”, disse Barbosa Filho.
Na visão do professor Cláudio Dedecca, do Instituto de Economia da Unicamp, o desalento só cairá após uma redução no contingente de desempregados. “Isso daria um incentivo para a pessoa sair da letargia.”