Com a compra de uma participação na gestora RCB, o Bradesco avança em uma área que já havia sido atacada por seus concorrentes, o crescente mercado de recuperação de créditos. O banco anunciou ontem a aquisição de uma fatia de 65% da RCB Investimentos, que atua na gestão de carteiras desse tipo. Segundo fontes do mercado, o negócio ficou em torno de R$ 224 milhões – o banco não quis comentar valores envolvidos na operação.
O Bradesco era o único grande banco que atuava apenas com uma equipe interna no mercado de recuperação de crédito. O Banco do Brasil é dono da Ativos e o Itaú Unibanco detém a Recovery, adquirida do BTG Pactual; este, por sua vez, tem uma nova empresa para atuar no setor, a Enforce. Já o Santander adquiriu 70% da gestora Ipanema no ano passado.
Nos últimos anos, as grandes instituições reforçaram a atuação no segmento, que cresceu após a crise econômica, em meio à elevação do número de inadimplentes no país. Especialistas estimam que o mercado de recuperação de crédito irá movimentar cerca de R$ 50 bilhões por ano até 2020.
“Nossa recuperação de crédito é a maior entre os nossos pares, o que comprova o eficiente processo de cobrança que o Bradesco possui. Mas temos espaço para melhorar ainda mais”, disse Eurico Ramos Fabri, vice-presidente do Bradesco, em teleconferência com jornalistas. Desde 2014, o banco conseguiu reaver 44,8% dos créditos atrasados e, com o negócio, quer elevar a taxa em até 25 pontos em dois anos, segundo o executivo.
A RCB ficará responsável pela aquisição da carteira de crédito problemática do banco, prioritariamente aquela em que foi dada baixa contábil para prejuízo porque o atraso dos clientes já dura muito tempo. Manter esses créditos em atraso no balanço consome capital e implica despesas, por isso os bancos têm vendido esses ativos que somam bilhões de reais mas têm pouco valor de mercado. Em muitos casos, passou a fazer mais sentido ter uma gestora em casa ou em parceria para fazer esse trabalho.
Conforme a parceria firmada com a RCB, controlada pela PRA Group Brazil Investimentos, as carteiras de crédito problemáticas vão formar o portfólio de dois Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs) – detidos majoritariamente pela PRA Group e pelos fundadores da RCB, e com participação de 40% do Bradesco.
A gestora ainda competirá com a área interna de recuperação de crédito do Bradesco na cobrança da carteira ativa, que tem inadimplentes com menos tempo de atraso. “Se a RCB for bem nesse processo, ela ganha mais carteira. É um processo de competição interna para gerar mais eficiência, algo inovador no mercado”, diz Fabri.
Criada em 2008, a RCB já estruturou e gerenciou mais de dez fundos que investem em créditos com pagamentos em atraso. A empresa já negociou mais de R$ 20 bilhões em carteiras (valor de face) e já investiu mais de R$ 1,2 bilhão em ativos. Por meio da Itapeva Recuperação de Crédito, o grupo tem atuado com foco mais forte na gestão de carteiras em atraso dos segmentos de varejo e de pequenas e médias empresas com garantias, como imóveis e veículos.
A empresa continuará independente, mas o Bradesco poderá apontar dois dos três cargos de diretoria. Os fundadores continuarão à frente da administração. Segundo os termos do contrato, não há exclusividade nas operações, o que significa que a RCB pode comprar carteiras de outros bancos e o Bradesco pode vender suas carteiras para outras instituições. A operação está sujeita à aprovação das autoridades. (Colaborou Álvaro Campos)