Especialistas e jovens trabalhadores apontam aspectos relevantes para obter uma vaga e o que fazer depois para se manter no mercado
Aos 19 anos, Samuel da Silva Ribeiro é assistente administrativo na companhia de alimentos Bunge. “Queria muito trabalhar em multinacional. Estava no terceiro ano do ensino médio quando conquistei uma vaga de aprendiz na empresa. Antes disso, me preparei fazendo cursos de assistente administrativo e de informática. Um dia depois de completar 17 anos eu entrei na Bunge.”
Segundo ele, iniciar a vida profissional como aprendiz foi o grande segredo. “A empresa não exige tanto de quem ocupa essa posição, mas é preciso demonstrar que tem vontade e se esforçar. Agindo dessa maneira deixei a minha marca.”
Evolução
Ribeiro começou cuidando do arquivo. “Deixei minha marca sendo organizado. Fiz o trabalho da melhor forma possível e criei novos métodos de arquivo. Assim, a equipe foi me atribuindo novas funções e passei a coordenar o trabalho de outros aprendizes, tarefa que realizo até hoje.”
A primeira promoção veio quando entrou na faculdade de administração. “Eu me tornei estagiário e três meses depois fui efetivado como assistente administrativo”, ressalta.
Especialista em gestão de carreiras e professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA), da Universidade de São Paulo (USP), Joel Souza Dutra faz alerta aos jovens que buscam o primeiro emprego: antes de distribuir currículo indiscriminadamente é importante eleger as áreas de trabalho pelas quais tem interesse, ou definir prioridades, tais como o tipo de empresa e a sua localização.
Rede
“Feito isso, deve buscar pessoas conhecidas que trabalham nesses locais para saber se existe oportunidade. Muitas organizações contratam por indicação de funcionários internos. Então, é interessante mobilizar a rede de relacionamentos.”
Ele ressalta que algumas companhias naturalmente oferecem o primeiro emprego, normalmente as de fast food, call center, ou play centers. “São empresas que formam sua mão de obra e investem na fase inicial de preparação, por isso, não requerem experiência. É um ponto de partida interessante, porque depois do primeiro emprego é mais fácil se movimentar no mercado.”
Para quem tem curso técnico ou superior, o universo de busca é mais delimitado. “Nesses casos, a questão da indicação é ainda mais forte. No que diz respeito a empregos para esse público, algo em torno de 80% das vagas são preenchidas por indicação. Uma boa coisa a fazer é mapear as empresas de interesse e ver se conhece alguém para fazer a indicação.”
Na hora de se preparar para as entrevistas de emprego, a presidente da Federação Mundial de RH e do grupo Capacitare, Leyla Nascimento, diz que a pessoa precisa se conhecer bem, saber o que gostaria de fazer e por quais áreas tem interesse. “Antes de participar de um processo seletivo, o jovem deve pesquisar sobre a empresa. Demonstrar que não tem informações sobre a organização resulta em ponto negativo.”
Mercado
Dutra acrescenta que é interessante ter informações antecipadas sobre o posicionamento da empresa no mercado, para poder refletir com antecedência e saber apontar qual contribuição poderá dar à organização.
“O candidato deve usar roupa mais séria, adotar linguagem correta e tratar os interlocutores de maneira formal. A maior parte dos jovens vai absolutamente despreparada, não conhece a empresa nem a posição. Só o fato de chegar com esse nível de preparo é um diferencial.”
Leyla acrescenta que mesmo não tendo experiência é possível elaborar um bom currículo, inserindo as suas potencialidades. “Cursos extracurriculares, experiências em projetos coletivos e trabalho voluntário devem entrar no currículo.”
Dutra inclui até mesmo vivência esportiva, além de viagem ao exterior, domínio de idiomas e participação em projetos sociais. “É interessante fazer o currículo na medida para cada empresa. Se julgar que certas características pessoais fazem diferença para a posição desejada é bom colocar. Para fast-food, por exemplo, vale destacar a habilidade de comunicação.”
Depois de conquistar a vaga, o desafio é manter o emprego. “O jovem deve demonstrar interesse em conhecer o trabalho e se aprimorar, fazer o melhor. Se tiver oportunidade é interessante se aproximar de pessoas mais experientes para entender a cultura da empresa e saber como se conduzir, diz o professor.
Retorno
Segundo ele, outro ponto interessante é obter feedback. “Procure saber como estão avaliando o seu desempenho, se deve aprimorar ou rever algum aspecto. É importante buscar opinião e estar disposto a ouvir.”
Com a mesma idade e fazendo o mesmo curso de Ribeiro, Guilherme Monoz também entrou na Nestlé como aprendiz. “Hoje, sou analista de treinamento e desenvolvimento.”
Sobre o processo seletivo, Monoz diz que soube da vaga no site Nube, que recruta estudantes. “Eu tinha 16 anos e queria trabalhar. Não gostava de passar as tardes em casa. Queria ter o meu dinheiro e não depender de meus pais.”
No processo seletivo, Monoz usou traje social e ficou bastante tenso. “Fiquei bem nervoso. Na hora da entrevista, senti que minha voz estava trêmula. Mas é normal ficar nervoso, tanto que fui contratado.”
Segundo ele, um de seus pontos fortes é a proatividade. “Gosto de ajudar os outros, gosto de sair no final da jornada sentido que fiz meu trabalho conforme havia planejado. Essa postura me ajudou a conquistar a vaga de estagiário e hoje, a de assistente de treinamento, no departamento de RH.”
Para ajudar os jovens a encontrarem o primeiro emprego, a Nestlé lançou no ano passado a Aliança pelos Jovens, com o objetivo de aumentar a empregabilidade de quem está chegando ao mercado.
“Hoje, outras 18 empresas participam da aliança. A meta é criarmos 26 mil postos de trabalho em 2019, sendo seis mil de primeiro emprego para aprendizes, estagiários e trainees”, diz o VP de RH, Marco Custódio. COLABOROU VITOR OHANA/ESPECIAL PARA O ESTADO