A melhora nos indicadores de crédito no primeiro semestre do ano gerou uma redução das despesas de provisão dos bancos, com aumento da rentabilidade das instituições e também da resiliência a testes de estresse, segundo o Banco Central (BC). A expectativa da autoridade monetária agora é que essa tendência perca força na segunda metade de 2018, após uma queda expressiva dos ativos problemáticos e uma redução no volume de operações baixadas a prejuízo.
As avaliações estão no Relatório de Estabilidade Financeira relativo ao primeiro semestre, divulgado pelo BC na quarta-feira. “A perspectiva é de estabilização das despesas de provisão e de desaceleração da trajetória de aumento da rentabilidade [das instituições financeiras] nos próximos semestres”, afirmou o BC no documento, destacando que as condições ainda serão favoráveis à evolução do retorno sobre o patrimônio.
A carteira dos chamados ativos problemático dos bancos, aqueles com maior risco de calote e que demandam mais provisão, caiu para 7,59% do total das carteiras em junho. É o menor patamar desde maio de 2016, quando estava em 7,46%. A redução foi concentrada nos bancos privados e nos bancos públicos comerciais. Nos bancos de desenvolvimento, essa participação se estabilizou em nível ainda considerado elevado – estava em 5,87% em junho, frente a 1,34% em maio de 2016. Em outro sinal de melhora do perfil da carteira dos bancos, o BC destacou a redução do volume das operações baixadas a prejuízo no último ano – de 3,8% das operações de crédito, em junho de 2017, para 3,5%.
Com a melhora da qualidade das carteiras, como resultado, que o BC atribuiu ao cenário econômico mais favorável, as despesas com provisão como proporção do estoque de crédito atingiram o menor nível da série do BC, com início em dezembro de 2011, em 2,8%. Para o BC, esses movimentos vão desacelerar, com impacto sobre a rentabilidade. O efeito vai ser parcialmente amenizado por um crescimento gradual da retomada do crédito e pela elevação da participação do financiamento para as pessoas físicas.
O relatório do BC destacou ainda uma redução do chamado Índice de Basileia do sistema – a relação entre o patrimônio de referência e os ativos ponderados pelo risco, hoje a principal medida de segurança do sistema bancário. Apesar disso, o nível ainda está bem acima do exigido pela regulação. As normas internacionais estabelecem que essa relação tem de ser de, no mínimo, 10,5%, e vai aumentar gradualmente até 13% em 2019. Em junho, o indicador caiu para 17,2%, frente a 18,1% em maio. Para o BC, a redução foi reflexo da retomada gradual do crédito, e não é fonte de preocupação.
Testes de estresse feitos pelo BC em exercícios que levam em conta choques em variáveis como desemprego, juros, câmbio e inflação mostraram que os bancos são capazes de absorver perdas em todos os cenários simulados. Segundo a autoridade monetária, os bancos se mostraram mais sensíveis a choques repentinos nas taxas de juros que no semestre anterior, apesar da situação seguir adequada. No caso de choques no câmbio, o impacto é muito reduzido. “Resultado da política de hedge adotada pelas instituições”, afirmou o BC.
Em um capítulo especial do documento, o BC destacou que “há aumento no pré-pagamento de dívidas a partir do segundo semestre de 2017, sendo as operações pré-fixadas as que registraram maior índice de liquidação antecipada” entre as operações com pessoas jurídicas, que estão utilizando mais instrumentos do mercado de capitais. Segundo a autoridade monetária, a queda na taxa básica de juros influenciou a composição do tipo de financiamento escolhido pelas empresas.
“O afrouxamento monetário a partir de 2016 reduziu a atratividade dos títulos públicos federais e incentivou a busca pela diversificação de investimentos. Com o aumento da demanda por títulos privados, o prêmio de risco caiu, reduzindo o custo de captação das empresas no mercado de capitais”, diz o texto, colocando também a responsabilidade na mudança de política do BNDES.