A redução nos preços dos combustíveis e nas tarifas de energia elétrica, dois dos que são administrados pelo governo, que o consumidor desta vez sentiu diretamente no bolso, refletiu de forma positiva nos índices de inflação.
De acordo com dados divulgados na última semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que calcula a inflação oficial, o IPCA-15 de novembro apurou alta de 0,19%, uma forte desaceleração em relação ao de 0,58% de outubro. Trata-se de um tombo de 67%.
A expectativa é que a forte queda nas cotações internacionais do petróleo, que impacta os preços dos combustíveis (gasolina, etanol e óleo diesel) no País, contribua para conter a inflação neste fim de ano e também no próximo. A menos que ocorra uma retomada de alta do petróleo ou um solavanco do dólar, segundo analistas do setor.
Na esteira da queda das cotações do barril de petróleo no mercado internacional, a Petrobrás baixou seguidamente o preço da gasolina nas refinarias este mês, acumulando uma redução de 13,58% na primeira quinzena de novembro.
Outro item que tem forte peso no cálculo da inflação é a conta de luz, que está mais barata desde outubro com a mudança tarifária de energia elétrica (de vermelha patamar 2 para amarela, mais barata). A recomposição em curso no nível dos reservatórios de geração de energia permanece, ajudada pelo regime favorável de chuvas, o que deve contribuir também para manter a inflação bem comportada.
Um risco, de acordo com especialistas em acompanhamento de preços, pode surgir das bruscas variações do custo de alimentos. A inflação corrente, estampada no IPCA-15 de 0,19%, foi influenciada, por exemplo, pela alta do tomate, principalmente, batata-inglesa e cebola.
O choque nos preços desses alimentos, contudo, é considerado sazonal e, portanto, seu efeito negativo sobre a inflação temporário. Cessada a pressão de alta, a inflação tende a voltar a seu canal de normalidade, sem risco de repasse da alta aos preços futuros pelo mecanismo de indexação, como ocorria nos tempos de hiperinflação no fim da década de 1990.
A desaceleração da inflação, puxada por queda de preços de itens que pesam forte e diretamente no bolso, contribui para aumentar o poder de compra dos consumidores neste momento de transição de uma economia que acaba de sair de severa recessão, mas ainda patina, em meio a muitas incertezas, para retomar um crescimento mais vigoroso.
A trégua da inflação proporciona certo conforto também a quem faz aplicações de renda fixa e obtém como retorno um juro nominal baixo, que nem sempre assegura margem real positiva, acima da inflação.
Analistas e economistas que fazem prognósticos sobre os principais indicadores econômicos para o boletim Focus, que o Banco Central divulga toda segunda-feira, também estão otimistas. De acordo com o último relatório Focus, a inflação oficial estimada para novembro está em -0,06% e, para dezembro, em 0,19%.
Se essas previsões se materializarem, o IPCA acumulado em 2018 ficará em 3,94%. O que não deixa de ser um alento para o aplicador em renda fixa, já que a ameaça de rendimento negativo deixa de existir. Até mesmo a caderneta de poupança, a que paga um dos retornos mais raquíticos do mercado, terá tido condições de proteger o dinheiro do investidor contra os efeitos corrosivos da inflação.
Este ano, a remuneração acumulada da caderneta será de 4,68%. Portanto, existe aí a perspectiva de ela pague um rendimento real de 0,71%, caso a inflação fique mesmo dentro das projeções atuais do mercado financeiro. E nas demais aplicações de renda fixa, a situação não será muito diferente, porque o rendimento da maioria delas tem ficado ao redor de 0,35% a 0,45% ao mês.
Para o próximo ano, a projeção atual de inflação está em 4,12%, o que permite esperar por taxas de juros também em níveis mais comportados. Assim, o aplicador que quiser um rendimento mais interessante terá de se expor um pouco mais ao risco.
O IPCA deste mês, do qual o IPCA-15 antecipou uma prévia, será conhecido no fim da primeira semana de dezembro.