A Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, está em fase final de negociação para se desfazer de um terço de sua carteira de Fundos de Investimento em Participações (FIP), avaliada em R$ 1,3 bilhão. Considerado pioneiro entre as fundações, o movimento da Petros abre caminho para impulsionar o mercado secundário de cotas de fundos de private equity no Brasil, hoje ainda incipiente.
Entre os investimentos dos FIPs da Petros há um peso grande de empresas de óleo e gás, caso do fundo Angra – que seria alvo de interesse de gestores, segundo uma fonte. Há companhias de outros setores, como a Librelato, de empreendimentos rodoviários, e a fabricante de estruturas metálicas Medabil, que compõem o fundo CRP VII, por exemplo.
Durante muito tempo – depois de diversos problemas apresentados – uma potencial venda era impensável para os fundos de pensão. Até porque os FIPs foram e ainda são motivo de dor de cabeça. Além de desvalorização expressiva, há disputas judiciais complexas e alguns são alvos da Operação Greenfield, da Polícia Federal. A denúncia mais recente, em 6 de fevereiro, envolveu ex-dirigentes das três maiores fundações do país – Petros, Previ e Funcef – por envolvimento em operações irregulares no FIP Global Equity.
A venda do primeiro FIP foi autorizada pela diretoria executiva da Petros em julho de 2018 e o processo de liquidação está em fase final, informou a fundação em nota. O Valor apurou que a intenção do presidente da entidade, Daniel Lima, é se desfazer de toda a carteira. Em janeiro, o executivo disse em entrevista que o primeiro negócio serviria como um “piloto” para outros desinvestimentos no setor.
Por sua relevância no mercado, a estratégia servirá como um norte para outras fundações. O fundo de pensão da Petrobras já vem sendo procurado sobre o assunto. Em geral, o custo de monitoramento dos FIPs é alto para os fundos de pensão. Em alguns casos, mesmo quando há ganho, ele não é relevante sobre o patrimônio dos planos. Com a redução das participações, as entidades poderão otimizar o tempo das equipes e monitorar melhor seus investimentos.
Gestores ouvidos pelo Valor ponderam que não há somente casos de insucesso, mas ativos interessantes nas carteiras das fundações. Por conta disso, nem todos os negócios serão fechados necessariamente com deságio sobre os valores pagos no momento que assinaram os contratos de compra. “Pode haver desconto ou ágio. É feita uma análise sobre cada uma das empresas investidas e o retorno esperado. Negociamos o que faz sentido para os dois lados”, diz o sócio da Spectra Investments, Ricardo Kanitz. A gestora, que administra R$ 1 bilhão, comprou 45 cotas de FIPs no mercado secundário nos últimos cinco anos.
O interesse em negociar com as fundações não é novo, mas a complexidade e burocracia impediam que os processos avançassem nos últimos anos. No passado recente, uma baixa profissionalização dos conselhos deliberativos dificultava as vendas. Agora, segundo pessoas a par do assunto, as gestões estão profissionais e a expectativa é que os processos sejam conduzidos com transparência.
“Temos interesse e condição de participar de processos estruturados de forma transparente”, diz o sócio da Hamilton Lane, Ricardo Fernandez. A gestora, que administra aproximadamente US$ 450 bilhões globalmente, pode não só comprar as cotas das fundações, como também assessorá-las em eventuais transações. “O mercado é enorme, mas precisa ser destravado, o que deve acontecer com a sinalização de uma fundação do porte da Petros”, completa.
Outra fundação que trilhou o mesmo caminho, a Infraprev, dos funcionários da Infraero, com cerca de R$ 3 bilhões de patrimônio, já teve 12 FIPs em sua carteira, que chegaram a representar 17% dos investimentos da fundação. Hoje, essa fatia representa 4% – mesmo antes da venda, o peso dos fundos de participação já tinha diminuído porque algumas carteiras passaram pelo período de desinvestimento ou entregaram retorno, por exemplo.
Em outros casos, a direção da Infraprev entendeu que o risco dos investimentos não compensava e mapeou cinco fundos de sua carteira para possível venda. Foram considerados fatores como desvalorização expressiva, demandas judiciais ou situações em que não via prazo para o encerramento do fundo.
Depois de abrir conversas com o mercado e realizar duas rodadas de oferta ao mercado secundário, concluiu a primeira venda em 1º de fevereiro. Para balizar a operação, foi feita uma análise das empresas investidas pelos FIPs, incluindo os custos para a manutenção em carteira. “Trouxemos um conceito de ‘stop loss’ para dentro dos FIPs”, diz a diretora de administração e finanças da Infraprev, Juliana Koehler.
A executiva não deu detalhes da venda nem do comprador, limitando-se a informar apenas que era um fundo que atuava em áreas como energia e saneamento. “Acabamos fazendo um projeto piloto bem interessante para uma posição que não era muito grande”, afirma. Agora, com a conclusão da negociação, que durou seis meses, o objetivo é vender outros FIPs ao longo de 2019. A intenção, segundo ela, não é zerar a participação, mas mitigar os riscos e reduzir os custos operacionais, dinamizando a carteira do fundo de pensão.
Fonte: Valor Econômico