Nossa espécie tem um apetite voraz para produzir teorias apocalípticas. Cresci com a ideia de que o petróleo acabaria antes da virada do milênio. Hoje, as reservas se mostram muito maiores do que as previsões apontavam.
Em 2005, o furação Katrina fez estragos profundos em New Orleans. Não faltaram alarmistas para afirmar que as temporadas seguintes seriam muito piores. O fato não se confirmou. É verdade que sofremos com alterações climáticas. Questiono, no entanto, as tentativas quase sempre equivocadas de prever o futuro. Escuto teorias sobre elevação do mar em 100 anos, quando temos dificuldade de prever o clima na próxima safra agrícola. Definitivamente somos pouco efetivos em olhar o futuro.
Na mesma família da futurologia aparecem estudos sobre os rumos do emprego no planeta. O economista Jeremy Rifkin é um dos expoentes na ideia de que o emprego vai desaparecer. Fez um ensaio detalhado sobre o desemprego estrutural em um livro chamado “O Fim dos Empregos”, de 1996. Ele mostrou que, ao longo do tempo, em função da tecnologia, competitividade dos negócios e crescentes custos com pessoal, o e mprego tende a evaporar.
Não faltam artigos, livros e estudos nessa direção. O Fórum Econômico Mundial de Davos tratou da chamada quarta revolução industrial. Fez uma estimativa de que devem ser perdidos até cinco milhões de empregos até 2020 nas quinze maiores economias do mundo, em função do avanço de tecnologia que substitui humanos.
Poucas vozes surgem como contraponto a essa onda pessimista. Entre elas, destaco três pesquisadores britânicos: Alex Cole, Ian Stewart e Debapratim De. Em seu mais recente estudo, o trio afirmou que a tecnologia cria mais empregos do que extingue. Dizem que o principal fator para o erro nas previsões é justamente a imprevisibilidade dos negócios. Também citam que as mudanças são menos rápidas do que achamos.
Quando observo o mercado de trabalho, tendo a concordar com o estudo desses britânicos, com destaque para dois aspectos.
O primeiro deles é uma separação conceitual entre emprego e trabalho. O emprego tradicional terá sempre seu espaço. Está na base do capitalismo e tende a crescer em momentos de aquecimento econômico. No entanto, é naturalmente um ciclo finito na carreira de cada profissional. Dessa forma, é necessário construir alternativas de trabalho. Pensar em emprego para a vida toda é algo inviável.
Com o aumento de longevidade, é necessário construir estratégias de trabalho para continuar produtivo e gerando receita quando o período do emprego tradicional se encerrar. Como atividades empreendedoras, de docência e de consultoria. Nesse sentido, o emprego pode ter fim na vida de uma pessoa, mas o trabalho seguirá existindo na economia.
A segunda reflexão é sobre às atividades profissionais. Não faltam publicações que citam carros autônomos, inteligência artificial, big data e outras tendências que nos fazem parecer jurássicos. Esse tom de jornada nas estrelas pouco ajuda na reflexão prática sobre estratégias de carreira. Algumas profissões podem ser extintas, mas a grande maioria vai sendo transformada com o tempo.
Se observamos as novas profissões, podemos concluir que são carreiras tradicionais que sofreram mutações. O marketing digital, por exemplo, é uma evolução das áreas tradicionais de marketing. Assim como as novas atividades na área de logística tiveram origem nas atividades ligadas às áreas de materiais e distribuição.
Os contadores foram durante algum tempo considerados como profissionais ultrapassados. De fato, os contabilistas de calça caqui e suspensório deram lugar aos profissionais de controladoria que hoje são altamente valorizados.
O desafio do futuro das profissões é fazer uma leitura sobre tendências de cada área. Buscar o “gap” de oportunidade é a chave para manter a competitividade no mercado de trabalho. As novas carreiras são evoluções das atividades profissionais existentes. Poucas são realmente disruptivas e fazem áreas desaparecerem.
Para descobrir quais são as tendências, é necessário curiosidade e controle sobre a carreira. O brilhante estudioso Mark Savikas afirma que os mais adaptáveis assumem a gestão de sua carreira, são curiosos na busca de informações e novas experiências e têm a clareza de que são os responsáveis pelo seu sucesso profissional.