Os bancos voltaram a expandir o crédito imobiliário, mas ainda precisam lidar com um problema herdado da recessão de 2014-2016 e do baixo crescimento da economia nos dois anos seguintes: o elevado estoque de imóveis registrado em seus balanços devido à retomada das unidades por falta de pagamento.
Os bens recuperados pelas cinco maiores instituições financeiras do país – Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Caixa Econômica Federal – fecharam 2018 avaliados em R$ 18,7 bilhões. Cerca de 90% desse valor se refere a imóveis. A quantidade estimada é de 90 mil unidades retomadas.
O estoque de imóveis e outros bens reavidos vinha subindo desde 2015, quando a economia mergulhara numa das mais longas recessões da história do Brasil. No ano passado, deu novo salto ao crescer 32,3% (a evolução é calculada com base no valor dos bens). Nos últimos meses, destaca-se a retomada de imóveis de valor mais baixo, vinculados ao programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.
O tema é uma dor de cabeça porque os bens retomados consomem capital dos bancos, que precisam constituir provisões para perdas com esses ativos – no fim de 2018, as reservas para essa finalidade totalizaram R$ 5,8 bilhões. Com a economia ainda fraca, as instituições também não conseguem encontrar compradores para os imóveis rapidamente. Ademais, a venda de um volume expressivo de unidades derrubaria os preços, criando mais obstáculos para a recuperação das incorporadoras. As duas maiores do país – MRV e Cyrela – tinham estoque avaliado em R$ 13,1 bilhões no fim do ano passado.
O Bradesco firmou parcerias para lidar com os imóveis recebidos em garantia. Uma delas foi com a Ulbrex Capital, que tem entre os sócios o empresário Cláudio Bruni, fundador da BR Properties. A gestora criou fundos com cotas lastreadas nos imóveis retomados pelo banco. A Ulbrex se encarrega da manutenção, paga IPTU e condomínio e, se necessário, organiza o relançamento dos imóveis no mercado. Outro parceiro do Bradesco é a Enforce, empresa de recuperação de créditos do BTG Pactual.
Maior banco de crédito habitacional do país, a Caixa acumula estoque de 62,9 mil imóveis retomados, dos quais, 29,5 mil entraram no balanço financeiro em 2018.