O crédito está mais fraco no segundo trimestre que nos primeiros meses do ano, refletindo a lentidão da economia, disse ontem o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr. Pior: mesmo que a reforma da Previdência seja aprovada até setembro, como imagina o executivo, para ele a atividade econômica só vai se recuperar em 2020. “E aí [este] é um ano mais perdido, afirmou.
De acordo com Lazari, o crédito a pessoas físicas está estagnado e as operações com pessoas jurídicas, inclusive capital de giro, estão em queda na comparação com o primeiro trimestre. Apesar do cenário pior, não houve até agora deterioração dos índices de inadimplência.
“O segundo trimestre está pior, até refletindo o PIB negativo dos primeiros meses do ano”, afirmou Lazari a jornalistas ontem, num tom menos otimista que o habitual, após falar sobre o cenário econômico no Secovi-SP.
Diante disso, o presidente do Bradesco disse que o PIB não vai crescer mais do que 1,2% neste ano, muito aquém do que se esperava para 2019. “No começo, foi a incerteza da reforma da Previdência, e depois foi a reforma da Previdência no tempo em que ela vai sair, que não será mais no tempo em que a gente gostaria, no primeiro semestre”, afirmou Lazari ao apresentar as razões para o crescimento mais fraco.
O executivo evitou atribuir a demora a problemas na articulação política do governo. Para ele, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), estão em sintonia e “pessoalmente muito envolvidos”, enquanto o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, “está conseguindo trazer o Congresso para isso, conversando com o Centrão”.
Sem citar em momento nenhum o presidente Jair Bolsonaro (PSL), Lazari afirmou que “o governo parece que começa a se entender”. “O país tem ‘n’ problemas, estamos vivendo um momento difícil de transição, mas temos de dar um voto de confiança de que vai acontecer”, disse.
O Bradesco era um dos bancos mais otimistas com a reforma da Previdência e trabalhava inicialmente com um cenário de aprovação até junho ou julho. Para Lazari, essa possibilidade ainda não está completamente descartada, “até pela dedicação do Maia e do Alcolumbre”, mas a chance de que o texto passe pelo Congresso entre agosto e setembro é, segundo ele, mais “realista”.
Mesmo com uma tramitação mais lenta que o previsto, o executivo destacou que é crucial uma reforma que gere economia de R$ 1 trilhão em dez anos. “Tem que ser. Desse número a gente não abre mão”, afirmou. “Se ela for desidratada de uma forma muito severa, que sejam R$ 600 bilhões, daqui a cinco anos vamos ter que voltar para a mesa porque vamos estar com problemas de novo.”
No crédito imobiliário, o executivo disse que o banco tem conseguido manter um ritmo de R$ 1 bilhão em operações, mas ponderou que é natural que a Caixa retome, neste ano, a liderança do mercado, perdida para o Bradesco em 2018.
Segundo Lazari, o Bradesco não planeja, por enquanto, oferecer crédito imobiliário remunerado pela variação do IPCA mais 4% e prefere continuar oferecendo aos clientes linhas em que a taxa seja TR mais 8% ou 9% ao ano. “No caso do IPCA, tenho o sério receio de, se alguma coisa der errado e tiver inflação novamente, a pessoa não ter dinheiro para pagar [as prestações].”
O executivo afirmou que prefere esperar o atual momento econômico “amadurecer” antes de olhar para linhas atreladas à variação da inflação. “Não quero correr o risco de fazer um FCVS 2″, observou, referindo-se ao Fundo de Compensação de Variação Salariais, criado nos anos 70 para cobrir saldos remanescentes de financiamentos imobiliários.
Anteontem, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou que o banco estatal planeja oferecer crédito imobiliário remunerado por IPCA mais 4%. O objetivo é securitizar essas operações e vendê-las no mercado de capitais. Para a Caixa, a operação ajudaria a tornar o balanço mais leve num momento em que a instituição tem de devolver ao Tesouro os recursos dos instrumentos híbridos de capital e dívida.