Queda do preço dos títulos emitidos por empresas reduz rentabilidade acumulada das carteiras da categoria
Os fundos de crédito privado investem em debêntures, CDBs e demais títulos vinculados a empréstimos contraídos por empresas ou instituições financeiras. Ao transformar a dívida em um título, o emissor aumenta os potenciais financiadores de suas atividades.
Para entender, considere que você só possa tomar recursos emprestados de um único banco. Nessa situação, é provável que a taxa do seu financiamento seja mais salgada.
Mas se você tivesse diversas alternativas, seria possível conseguir ofertas melhores. Essa é a lógica que orienta o mercado de crédito privado.
A aplicação em títulos de crédito privado envolve um risco adicional para o investidor. Isso porque a possibilidade de calote é maior do que se deixasse as aplicações em títulos públicos, por exemplo.
Para compensar essa incerteza, a rentabilidade das aplicações em fundos de crédito privado tende a ser maior do que a dos fundos de renda fixa tradicionais, que são recheados com títulos públicos.
Entretanto, a oscilação de preço dos títulos de crédito privado, que acaba refletindo nas cotas dos fundos, não é intuitiva para o investidor acostumado com investimentos em bancos.
Ao comprar um título de renda fixa, negociamos a taxa de juros que incidirá sobre o montante aplicado. Essa taxa pode ser prefixada, indexada à inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ou atrelada à variação do certificado de depósitos interfinanceiros (CDI).
O resultado prático é que o rendimento da aplicação varia de maneira constante, conforme a taxa acordada. E associamos esse mecanismo à renda fixa.
Já o preço dos títulos de crédito privado é calculado do fim para o começo. A partir do valor final de resgate do título, estabelecido conforme as condições da emissão, é feita a avaliação da aplicação no presente, levando em conta as taxas de mercado.
Essa conta é semelhante aos cálculos usados pelos especialistas de renda variável. Um analista de ações estabelece um preço alvo para um papel no futuro e compara com a cotação atual.
A Anbima, a associação das instituições financeiras, calcula um indicador relevante para o mercado de fundos de crédito privado chamado IDA-DI. O índice mede o desempenho de uma carteira teórica de títulos emitidos por empresas indexados ao CDI.
O gráfico a seguir compara a variação acumulada do CDI e do IDA-DI entre o começo de outubro até meados de novembro.
Enquanto o CDI subiu de forma constante no período, o IDA-DI registrou desvalorização. Isso ocorreu porque houve queda do valor de mercado dos títulos de crédito privado.
Os gestores de recursos argumentam que é um ajuste técnico, já que não houve calote de emissores. A tese é que o excesso de demanda pelos títulos privados ao logo deste ano inflou os preços dos papéis e muitos emissores passaram a captar recursos com rentabilidade próxima ao CDI.
O ajuste de agora, segundo essa visão, é positivo para o mercado como um todo, porque irá ajustar a remuneração dos títulos com o risco de mercado. Muitos argumentam que é um bom momento para investir.