Crédito à pessoa física preocupa economistas

Destaque deve ficar para crédito consignado e financiamentos imobiliário e para veículos

As linhas com maiores garantias e prazos mais alongados serão as melhores opções para os consumidores que precisarem tomar crédito em 2020, afirmam especialistas. Dentre as modalidades mais vantajosas, destacam-se os financiamentos imobiliários e para veículos, além do crédito consignado.

O motivo para o crescimento calcado nessas linhas é o apetite bancário ainda restrito ante a lenta recuperação econômica e a baixa demanda do consumidor frente ao alto comprometimento da renda familiar.

Dados do Banco Central apontam que o endividamento e o comprometimento da renda das famílias (descontados os financiamentos imobiliários) atingiram 26,2% e 18,4% em outubro. Eram de 23,9% e 17,3%, respectivamente, no mesmo mês de 2018.

Segundo a superintendente executiva do Santander, Sandra Rodrigues, o crescimento das linhas com mais garantias também acontece em prol da maior atratividade para o consumidor.

“É exatamente porque essas modalidades têm algum tipo de garantia na operação que o banco consegue trazer taxas mais reduzidas na ponta consumidora. E esse é um cenário que continua com avanços expressivos quando olhamos para 2020”, diz a executiva.

Ainda de acordo com dados do BC, os juros cobrados nestas três linhas são os únicos que conseguem estar abaixo da taxa de juros média (considerando recursos livres e direcionados) cobrada no mercado de crédito —que ficou em 23,9% ao ano em novembro.

Enquanto o consumidor paga 23,8% ao ano para o crédito consignado, as taxas para aquisição de veículos estão em 21,5% ao ano e a de financiamentos imobiliários, em 8,8% ao ano.

O avanço nas concessões dessas linhas já era visto pelo mercado. Os empréstimos consignados para pessoas físicas subiram 60,6% em novembro contra igual mês de 2018. Nos financiamentos para aquisição de veículos e de imóveis, a alta foi de 15,9% e 13,6%, respectivamente.

Para o diretor da área de empréstimos do Bradesco, Leandro Diniz, foi a perspectiva de retomada da economia e dos níveis de emprego que incentivou os consumidores a buscarem novos recursos.

“Esse tomador, agora, tenta equilibrar as contas para não levar mais sustos em casos de emergência. Ele está mais realista e começa a adaptar a decisão de dívida para dentro do que ele pode assumir de compromisso mensal”, afirma.

Segundo o vice-presidente do Cofecon (Conselho Federal de Economia), Antônio Corrêa de Lacerda, isso também sinaliza a necessidade de as reduções das taxas de juros se expandirem também para as demais linhas.

“O primeiro desafio é para o Banco Central, que precisa regular esse processo para que os recuos cheguem em todas as linhas e não apenas em mercados específicos. O segundo desafio é do governo, que precisa incentivar uma recuperação do emprego e da renda, que continuam a limitar a tomada de crédito”, diz Lacerda.

Do ponto de vista do consumidor que precisar de recursos emprestados nos próximos meses, o planejador financeiro do C6 Bank Daniel Varajão, afirma que alguns cuidados precisam ser tomados.

“A primeira decisão é não tomar a linha de crédito mais fácil, porque comodidade também significa pagar mais caro”, diz ele, referindo-se ao cartão de crédito rotativo e ao cheque especial, as duas linhas mais caras do sistema financeiro.

Em novembro, os juros médios do cheque especial ficaram em 306,6% ao ano, o equivalente a 12,4% ao mês. Já os juros totais para o cartão de crédito rotativo atingiram 318,3% ao ano (12,7% ao mês). No parcelado, alternativa para aqueles que usam o rotativo do cartão, as taxas estavam em 159,6% ao ano no período.

“É preciso analisar as alternativas, a quantidade de recursos necessária para reorganizar as contas e a capacidade de pagamento mensal para que seja uma decisão acertada de crédito”, diz Varajão.

O vice-presidente de controles internos do Banco do Brasil, Carlos Renato Bonetti, afirma que dois passos são importantes para a tomada de crédito. Ter uma noção clara sobre a atual capacidade de pagamento é a primeira coisa a ser pensada pelo consumidor.

“Não se pode consumir crédito por impulso. Observado o nível de renda, é preciso pesquisar as diversas ofertas e ponderar os prazos e taxas que melhor se adequam à necessidade do momento, sempre olhando para o custo total e não apenas os juros”, diz.

Já em relação à renegociação de dívidas, o superintendente executivo de renegociação do Santander, Ricardo Olivare, afirma que, em caso de débitos anteriores ainda não quitados, a principal atenção deve ser para o pagamento dessas contas.

“Imprevistos acontecem e essa é uma realidade do mercado. Em casos de inadimplência do consumidor, o ideal é readequar a dívida para uma linha com taxas mais baratas. Mas é preciso também ter cautela para evitar a reincidência”, diz Olivare.

Fonte: Folha de São Paulo